MInha Confissão

Encontrar você foi como esbarrar numa parte minha que eu nunca tive — uma peça que não veio comigo, mas que, por algum motivo, estava guardada em você.

Amizade, dizem. mas às vezes amizade é só o nome que damos quando o coração reconhece algo profundo demais para ser ignorado e delicado demais para ser confessado.

Há um estranhamento bonito entre nós:
como se cada um carregasse exatamente aquilo que o outro perdeu pelo caminho.
Você com essa firmeza que eu invejo,
Eu com essa sensibilidade que você nunca acreditou merecer.

É porque na verdade um enxerga no outro algo que lhe faz falta,

alguns traços que gostaria de ter mas que não acredita que pode conseguir em si próprio.

Talvez seja por isso que ficamos, mesmo sem precisar.
Você me puxa do abismo sem perceber;
Eu te suavizo sem querer.

E nesse encontro torto, quase acidental,
tem algo que nos costura — delicado, impreciso, mas vivo.

e, no fundo, acho que é por isso que o coração insiste em tremer quando você chega perto,
como se reconhecesse um território que nunca pisou,

mas que mesmo assim chama de lar
não digo nada — eu confesso, não sei dizer —
mas às vezes meu silêncio quase desliza pela borda da boca,
quase vira palavra,
quase te toca.

é estranho sentir tanto e disfarçar tão bem.
estranho perceber que meu riso encontra o seu sem que eu mande,
que minha alma descansa ao seu lado como se entendesse algo que minha mente ainda teme nomear.
não é amor, dizemos um para outro,
não pode ser.

Então por que a falta vem mesmo quando você está aqui?
Por que a sua presença acende coisas que eu fingia não ter?

e eu sigo assim,
nesse quase-querer que nunca confesso,
guardando uma ternura que cresce sozinha,

como se o coração, teimoso,
soubesse o que eu ainda não tenho coragem de admitir:
que em algum lugar entre o que somos e o que fingimos ser,
você se tornou o meu afeto preferido.