Minha casa de Ecos

SADE

às vezes caminho
como quem procura o próprio fim
num labirinto que respira dentro de mim,
uma casa de ecos,
um templo rachado
onde as paredes sussurram nomes
que nunca aprendi a esquecer.

há dias em que a morte
não é mais que uma sombra curiosa,
um vulto apoiado no canto da alma,
me observando em silêncio,
como quem diz:
eu entendo o peso que você carrega.

e eu sigo,
mesmo sem saber se corro ou se me entrego,
porque dentro de mim mora um caos
que pede respostas que o mundo não fala,
um vazio que se abre como um buraco negro
e engole cada certeza que tento criar.

mas também busco o amor,
como quem tateia uma porta invisível na escuridão,
e às vezes encontro um sopro,
um gesto,
uma lembrança quente o bastante
para me impedir de cair.

escrever me salva.
escrever me costura.
é como tocar o próprio peito aberto
e reorganizar o que o dia despedaçou.
cada palavra é um pequeno abrigo,
e eu me escondo dentro delas
quando o mundo fica grande demais.

tenho amor pelo escuro,
pela noite que me aceita como sou,
pelo silêncio que não exige máscara,
pelos caminhos vazios onde minha mente
pode finalmente respirar.
é ali, quando tudo se cala,
que minha alma grita mais alto.

e mesmo que a solidão seja faca e remédio,
mesmo que eu a ame e a odeie
com a mesma intensidade febril,
é nela que encontro a verdade
que o dia insiste em apagar.

carrego minha dor como quem carrega fogo:
às vezes queima,
às vezes ilumina.
e sigo,
entre o amor que procuro
e o abismo que me chama,
escrevendo o que não consigo dizer,
chorando o que não aprendi a soltar,
amando a noite como quem ama um espelho,
amando o desconhecido
porque é o único lugar
onde ainda acredito me encontrar

tenho novas marcas nos pulsos

meu pescoço anseia novamente a corda

fico observando minha sombra se movimentando pelo teto da casa

meu bruxismo faz o único ruido no silencio do quarto

já nem sei mais quantas vezes sangrei por vontade própria 

sei que sonhos são fatais se são sonhos pequenos

mais eu não sei sonhar grande 

me perco e me econtro e meus livros e filmes antigos 

em meu velhos discos que arranham a agulha 

em meus manuscritos e poemas ainda guardados nas gavetas 

e mesmo odiando saber 

eu amo esse silencio e esse caos que me rodeia 

 

 

  • Autor: SADE (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de dezembro de 2025 10:50
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4
  • Usuários favoritos deste poema: LidyaMorgan
Comentários +

Comentários1

  • LidyaMorgan

    Há uma beleza triste e luminosa no que você sente. Mesmo entre sombras e dores, sua escrita cria um abrigo — pequeno, mas suficiente para respirar. E esse respiro, por menor que seja, já é um gesto de delicadeza consigo. Linda escrita!



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