Patrick Torres

Amor à morte

 

No momento em que eu penetrei ou achei por ignorância ter descoberto o mais profundo de mim. Foi no mesmo instante em que eu conheci e tive noção do que era ou deveria ser a coisa ou ser. Chamada de morte. Em momentos como esse, as pessoas se aproximam com uma tentativa de te dar o que elas não podem, e opinar sobre o que elas não sabem, mas de certa forma você está só, mesmo rodeado de PHD’s da vida. Mas, quanto mais enfurnado em meus pensamentos, e mais profundo eu penetrava, em maior quantidade eu me sentia feliz na minha condição, e de certa forma completo. Me proporcionava uma sensação de estar enjaulado em uma condição até então não explorada. Mas conhecida de relance com más impressões. Porque é quando você pensa na morte, e esquece da vida, é que de fato as coisas ficam mais enérgicas e saudáveis.

A morte precisa ser lembrada sempre, por que é pensando nela que as pessoas vivem com mais selo e cordialidade umas com as outras. É pensando e caminhando perto da morte, que os milésimos de segundos passam a ser um castigo eterno, pois será impossível recuperá-los.

A morte é uma dádiva jogada no lixo por pessoas que pensam na vida e escondem a lucidez que a morte traz com ela.

Ela, que se fosse uma mulher, seria uma das mais belas pois traz consigo toda a bondade e doçura que qualquer um jamais poderia imaginar por si só em curvas delicadíssimas. Seria estranho ignorar uma mulher tão bela e cordialmente discreta, que acaba se tornando imperceptível por pessoas que não admiram a beleza das coisas. Harmonia essa que acontece a cada momento, a cada noite sem dormir, a cada cheirada de cocaína, a cada gole de cerveja, a cada tragada de cigarro, a cada traição. E por não ser admirada e exposta é colocada em baixo do tapete como uma poeira que não deve ser achada, assim escondendo sua esplendorosa elegância e lábios carnudos e suas tetas enormes e belas. Mas mesmo a beleza que a morte proporciona não pode competir com a vida que é feia e magra, e tem suas maledicências, e não pode entrar para o clube das gostosuras que a morte proporciona. Pois a vida é completamente desprezível e me faz não querer admira-la, pois dá muito trabalho, é muito cansativo, exaustivo e agoniante.

Ter que falar com respeito com as pessoas é a maior das atrocidades. Parar o carro para idosos atravessarem a rua naquela vagarosidade de lesma é um porre. Não me imagino trabalhando tanto por esse tipo de coisa avarenta que é viver. Viver é respeitar as pessoas, e isso é o mesmo que a cegueira. Não me imagino cego por questões obvias e da mesma forma não me imagino vivo por bondade própria. Morrer a cada dia é mais prazeroso que viver a cada novo ano, a cada festa de aniversário que quem morava na sua casa e não lembrava dá sua existência te nota e vê que você não é só uma estátua de mármore barroco no canto da paroquia, e sim um ser até então invisível.

Cabe a mim ser notado ou não. Às vezes eu passo desapercebido por mim mesmo e só me acho tempos depois. Eu me perco e me acho em meus aforismos, e no meio disso tudo, as pessoas ditam o que eu deveria fazer e como eu deveria pensar, como se todos fossemos robôs que tivéssemos que pensar igual.

A vida é um saco, obrigado morte, por salvar o mundo em que vivo pois você de fato é que merece a extrema e absoluta atenção. Principalmente pela penúria de ser retroativa, e didática, assim como a vida.

  • Autor: Patrick Torres (Offline Offline)
  • Publicado: 2 de Setembro de 2020 21:59
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi em um dia cinza. Minhas inspirações vem de minhas "desilusões"
  • Categoria: Carta
  • Visualizações: 15
  • Usuário favorito deste poema: Patrick Torres.


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