Nas brumas mornas de um jardim sem flor,
Onde o tempo tece luto e lentidão,
Reside ela, a tecelã da dor,
Com a alma acesa em muda petição.
Não vinga o laço, não finda a procura,
Por um amor que a mente inventa e adora;
No mapa do destino, a linha é escura,
E o eco da esperança a cada dia a ignora.
Solidão lhe é o manto, tecido em mágoa fria,
Que a veste desde o alva até o negrume astral.
Seus olhos, dois lagos na calada noite,
Abrigam a lágrima que jamais sai, que jamais se solta.
É um pranto interno, sem som, sem melodia,
A dor que ruge na caverna do peito, e só a ela soa.
Chora muda, em silêncio que a todos assusta,
Pois a voz se quebrou no grito sufocado do querer.
Em cada sombra que se alonga e a afaga,
Ela vê o vulto de quem a viria amar;
Em cada raio de sol que a brisa traga,
Ela busca o brilho que há de a iluminar.
E a esperança... Ah, a ingênua e cruel amiga!
Ela se alimenta de qualquer aceno vão,
De um sorriso breve, de um olhar que intriga,
De uma palavra dita sem real intenção.
Constrói castelos de suspiro e névoa,
No palco frágil de um instante que passa,
Para vê-los ruir, sob a dura prova
Da ausência crua, da derradeira desgraça.
Mas Saphira não tomba. Sua espera é um feito,
Uma epopeia da resiliência pétrea.
Seu corpo, agora, a forma do penhasco estreito,
Que o mar do tempo e a sorte vil apedreja.
Ela se faz pedra resoluta e paralisada,
Na vastidão da areia, sob o céu inclemente.
Não corre, não foge, à sina predestinada,
A ser o marco fixo, o ser inerte e crente.
E as intempéries vêm, como agressões brutais,
Contra sua pele que já não sente a dor.
O vento gélido, o chicote dos temporais,
O sol que arde, sem lhe trazer o calor.
São os dias longos, os meses sem abrigo,
Os anos que a ferem, mas não a fazem vergar;
São as promessas falsas que a solidão traz consigo,
Que tentam sua forma lentamente desbastar.
Dia após dia, a rocha não se quebra.
É agredida e atacada por tudo o que não vem.
O amor que tarda, a dor que a fere e celebra,
Não a destrói, mas forja a alma de quem retém.
Lenta e cruelmente, ela é polida, não por carinho,
Mas pelo atrito amargo de existir sem par.
Aguardando o toque suave do destino,
Que a liberte do muro, que a ensine a amar.
Quando virá o Amado, o justo escultor,
Que reconheça a beleza do mármore sofrido?
Até lá, ela persiste, em silêncio, em dor,
A Rocha de Espera, o corpo não vencido.
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Autor:
Bardo de Ferro (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 4 de dezembro de 2025 20:48
- Comentário do autor sobre o poema: Todos querem amar, todos querem ser amados e muitas vezes buscam por algo incomensurável. Esse poema expressa essa busca infinda por ser amado
- Categoria: Amor
- Visualizações: 3

Offline)
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