A Espera

Eder Maurilio Soares

Nas brumas mornas de um jardim sem flor,

Onde o tempo tece luto e lentidão,

Reside ela, a tecelã da dor,

Com a alma acesa em muda petição.

Não vinga o laço, não finda a procura,

Por um amor que a mente inventa e adora;

No mapa do destino, a linha é escura,

E o eco da esperança a cada dia a ignora.

Solidão lhe é o manto, tecido em mágoa fria,

Que a veste desde o alva até o negrume astral.

Seus olhos, dois lagos na calada noite,

Abrigam a lágrima que jamais sai, que jamais se solta.

É um pranto interno, sem som, sem melodia,

A dor que ruge na caverna do peito, e só a ela soa.

Chora muda, em silêncio que a todos assusta,

Pois a voz se quebrou no grito sufocado do querer.

Em cada sombra que se alonga e a afaga,

Ela vê o vulto de quem a viria amar;

Em cada raio de sol que a brisa traga,

Ela busca o brilho que há de a iluminar.

E a esperança... Ah, a ingênua e cruel amiga!

Ela se alimenta de qualquer aceno vão,

De um sorriso breve, de um olhar que intriga,

De uma palavra dita sem real intenção.

Constrói castelos de suspiro e névoa,

No palco frágil de um instante que passa,

Para vê-los ruir, sob a dura prova

Da ausência crua, da derradeira desgraça.

Mas Saphira não tomba. Sua espera é um feito,

Uma epopeia da resiliência pétrea.

Seu corpo, agora, a forma do penhasco estreito,

Que o mar do tempo e a sorte vil apedreja.

Ela se faz pedra resoluta e paralisada,

Na vastidão da areia, sob o céu inclemente.

Não corre, não foge, à sina predestinada,

A ser o marco fixo, o ser inerte e crente.

E as intempéries vêm, como agressões brutais,

Contra sua pele que já não sente a dor.

O vento gélido, o chicote dos temporais,

O sol que arde, sem lhe trazer o calor.

São os dias longos, os meses sem abrigo,

Os anos que a ferem, mas não a fazem vergar;

São as promessas falsas que a solidão traz consigo,

Que tentam sua forma lentamente desbastar.

Dia após dia, a rocha não se quebra.

É agredida e atacada por tudo o que não vem.

O amor que tarda, a dor que a fere e celebra,

Não a destrói, mas forja a alma de quem retém.

Lenta e cruelmente, ela é polida, não por carinho,

Mas pelo atrito amargo de existir sem par.

Aguardando o toque suave do destino,

Que a liberte do muro, que a ensine a amar.

Quando virá o Amado, o justo escultor,

Que reconheça a beleza do mármore sofrido?

Até lá, ela persiste, em silêncio, em dor,

A Rocha de Espera, o corpo não vencido.

  • Autor: Bardo de Ferro (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de dezembro de 2025 20:48
  • Comentário do autor sobre o poema: Todos querem amar, todos querem ser amados e muitas vezes buscam por algo incomensurável. Esse poema expressa essa busca infinda por ser amado
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3


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