Mesmo quando me enrolo com meus próprios pensamentos,
— nessas linhas tortas que escrevo sem querer —
há uma presença que não me solta.
Eu a sinto no canto da alma,
um suspiro que parece vir de dentro, mas não é meu,
como se alguém soprasse calma
no exato ponto onde costuro minhas incertezas.
Ela não reclama,
embora eu viva dando nós impossíveis
na fita frouxa dos meus dias.
Não me pressiona,
mesmo quando minha cabeça inventa labirintos
e meu coração tenta sair pela porta errada
só para ver se muda o final da história.
E ainda me segura quando eu tropeço —
o que, convenhamos, acontece mais vezes
do que a gravidade recomendaria.
Anjos definitivamente têm mais paciência que humanos,
e talvez riam de mim em silêncio,
não por maldade,
mas porque sabem que eu levo tudo a sério demais,
até o drama das pequenas incertezas
que duram menos que um café.
Às vezes converso com essa presença,
como quem fala com o vento
esperando uma resposta que já conhece.
Digo:
“Você não cansa de me acompanhar
nos meus tropeços filosóficos?”
E ela me devolve uma espécie de luz,
um levantar de sobrancelhas invisível,
algo entre:
‘Claro que não’
e
‘Lá vamos nós de novo, mas eu gosto de ver você tentar.’
No fundo, eu sei:
ela entende que viver é equilibrar-se
entre o que sinto e o que invento,
entre o que espero e o que temo,
entre a leveza que desejo
e o peso que insisto em carregar.
E mesmo assim permanece.
Me guia sem dizer,
me abraça sem braços,
me acalma sem voz.
Talvez seja isso que os anjos fazem:
acompanham nossa dança desajeitada
pela vida,
gentilmente prevenindo quedas
e permitindo outras
— só as que ensinam a rir de nós mesmas.
Porque, no final,
toda existência é essa mistura curiosa
de tropeços, reflexões e paradoxos,
e eu,
com toda minha elegância atrapalhada,
só consigo agradecer
à gravidade suave desse ser paciente
que me segura,
me entende,
e ainda me deixa seguir pensando demais,
como quem diz:
“Continue.
Seu caos também tem poesia.”
-
Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 4 de dezembro de 2025 15:45
- Comentário do autor sobre o poema: Às vezes, quando a mente vira um novelo impossível, surge aquela calma discreta que me lembra que ninguém precisa ser perfeita para seguir adiante. É como se uma luz paciente observasse meus exageros com carinho, guiando meus passos sem fazer alarde. Essa presença me mostra que viver é tropeçar e aprender a rir do desequilíbrio. No fundo, ela me prova que até meu caos tem seu próprio brilho — e que tudo fica mais leve quando aceito isso.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 6
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta

Offline)
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