Entre Teu Riso e Meu Desejo

Gilberto Lima

Sentei-me à mesa.
Antes de qualquer palavra, foi o teu rosto que me encontrou.
Havia nele uma serenidade rara,
daquelas que o tempo não leva — aprimora.

O teu riso…
um clarão discreto, quente,
sabores antigos que voltam à boca quando menos se espera.

E então, Senhorita,
meus olhos traíram minha intenção
e seguiram teus gestos como quem reconhece um caminho:
a mão que repousa,
o toque leve no copo,
o sorriso que nasce primeiro nos olhos.

Senti algo despertar —
não um impulso,
mas um desejo inteiro,
profundo, calmo,
o tipo de desejo que pede permissão antes de existir.

Quis tocar tua mão.
Devagar.
Como quem afirma uma presença
e oferece uma promessa.

O silêncio entre nós mudou de textura.
Deixou de ser intervalo
e virou linguagem.
Teu olhar falava primeiro,
o meu respondia depois —
num diálogo que o corpo compreende melhor que a fala.

Teus olhos…
ah, teus olhos carregam a sabedoria das mulheres que viveram,
que queimaram,
que renasceram.
Há neles um brilho aprendido, não herdado.

É para esse brilho que eu me inclino,
é nele que eu quero entrar —
sem pressa, sem volta,
como quem finalmente encontra
o porto onde o próprio peito repousa
e o desejo se acende sem alarde,
mas inteiro.

  • Autor: Gilberto Lima (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de dezembro de 2025 14:26
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5


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