Às vezes,
um sussurro antigo acorda dentro de mim,
um vento que passeia pelos corredores da alma
e reformula meu silêncio
como quem afina um instrumento
que já viveu muitos concertos.
Então desperta a vontade
de cortar o cabelo —
não apenas pelos fios,
mas pelas histórias que pesam neles.
Quero ver cair no chão
o que já não me pertence,
e nascer no espelho
numa versão de mim
que finalmente encontra seu próprio tom.
Brota também o desejo
de trocar o guarda-roupa:
vestir cores inéditas,
bordar maturidade nos ombros,
sentir a leveza de uma mulher
que aprendeu a caminhar
sem pedir licença ao medo.
E a casa…
ah, a casa sempre percebe primeiro.
Os móveis imploram outros lugares,
as paredes suspiram por novos olhares,
e cada canto sussurra
que também precisa recomeçar.
Mas há outras mudanças
que chegam com outro tipo de vento:
o vento das estradas abertas,
dos mapas dobrados no banco do carro,
das malas pequenas
onde só cabe o essencial.
De repente, sinto vontade de viajar,
de mergulhar em cidades que não conheço,
de ouvir o sotaque do mundo,
de me perder em ruas desconhecidas
e me encontrar em mim mesma.
De colecionar rostos,
histórias,
sabores,
e perceber que cada pessoa nova
é um espelho que revela um canto meu
que eu ainda não tinha visitado.
No fundo, eu sei:
não é só sobre cortes, tecidos, móveis ou itinerários —
é sobre as muitas vidas
que moram dentro da mesma vida.
É sobre descobrir, com suavidade,
que crescer também é mudar de rota,
aprender novos ritmos,
e permitir que a maturidade
cante dentro de nós
como um refrão que finalmente faz sentido.
E quando a mudança chama,
vem como música ao longe:
um convite doce
para seguir adiante,
para abrir a porta,
para caminhar sem pressa,
porque ainda existe um outro eu —
mais inteiro, mais leve, mais luminoso —
esperando para ser encontrado
entre um destino e outro.
-
Autor:
Medusa (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 3 de dezembro de 2025 09:49
- Comentário do autor sobre o poema: Este poema é sobre aquele impulso silencioso que às vezes desperta na alma — uma vontade quase instintiva de mudar algo fora para entender algo dentro. Cada verso é uma tentativa de traduzir o movimento da maturidade: esse aprender contínuo, essa necessidade de reinventar a própria história com delicadeza, coragem e curiosidade. Porque mudar não é perder quem fomos, mas abrir espaço para quem estamos nos tornando.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 9
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...

Offline)
Comentários1
Que belo e perfeito...
Viajei nesse mar de palavras...
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.