Apenas um Poema Caótico, Sujo e Sem Idade

SADE

Apenas um Poema Caótico, Sujo e Sem Idade

Entre os escombros onde o universo tropeça,
escorre a vida — essa ferida antiga que nunca cicatriza 
e a morte ri num canto abafado, balançando as pernas,
como quem espera um trem que nunca chega.

O tempo?
Ah, o tempo é só um rumor bêbado,
um mendigo que perdeu o relógio
e agora finge que manda em tudo.
Nem idade existe só palavras com medo do esquecimento,
essas covardes que se escondem atrás de números.

O espaço?
Espaço é um quarto mal arrumado onde Deus esqueceu a luz acesa,
uma bagunça cósmica onde nós tateamos
como amantes vendados,
tentando entender se estamos tocando o destino
ou apenas poeira.

E falando em amantes 
essa dança torta, deliciosa, quase cruel
onde o desejo aperta, morde, risca, sufoca,
mas ainda assim acende a pele
como fósforo riscado no escuro.
Chamam isso de paixão;
eu chamo de pacto masoquista com o abismo.

Porque quando dois corpos se procuram,
não é só um beijo:
é uma briga silenciosa,
um duelo onde ninguém quer vencer,
onde o prazer se disfarça de ferida
e a dor, de promessa.
E nós, tolos devotos,
aceitamos as algemas invisíveis
com um sorriso cínico nos lábios,
como quem diz: machuca, mas não vai embora.

A vida, essa vadia romântica,
puxa nossos cabelos para frente,
nos joga contra o amanhã sem piedade,
nos arranha com calendários
e ainda faz carinho depois,
como se pedisse desculpas por existir.

A morte, sempre cheia de charme,
fuma seu cigarro devagar
encostada na porta,
esperando o momento ideal
para nos convidar para dançar 
e nós iremos, claro,
porque somos orgulhosos demais
para admitir que temos medo.

No fim, descobrimos
que não há tempo, nem idade, nem sentido:
só essa bagunça linda,
essa coreografia torta
onde tudo nasce sujo e termina sublime,
ou talvez o contrário,
vai saber.

Vivemos entre risos, gemidos, insultos,
carícias que doem, dores que acariciam,
e seguimos, cambaleando,
com sarcasmo nos olhos
e amor demais nos bolsos.

E que seja caótico.
E que seja sujo.
E que seja eterno
nesse eterno que não existe.

  • Autor: SADE (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de novembro de 2025 08:12
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4
Comentários +

Comentários1

  • yador

    primeira vez usando o site e os poemas são incrivéis ;3



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