Em quanto o país fecha os olhos

volcanicsunggie



Olhei pro meu passado

e ri da menina que eu fui.

Não por maldade,

mas por perceber que eu me chamava de fraca

quando, na real,

eu só não tinha descoberto a força que morava em mim.

 

Hoje eu ergo a cabeça.

Hoje eu digo alto, sem tremer:

não importa a cor,

não importa o patrimônio,

não importa a roupa,

o bairro,

o sobrenome.

O que importa é o que pulsa dentro do peito.

 

Se é um coração que te devolve esperança,

ou um desses corações podres,

que drenam paz,

que sugam luz,

que te deixam menor.

 

E, sinceramente?

Esse país me dói.

Me dói porque é corrompido

por dinheiro,

ganância,

hipocrisia,

ignorância 

e uma cegueira coletiva que ninguém admite ter.

 

Ninguém enxerga o que acontece na periferia.

Ninguém olha pro que sangra nas ilhas,

no Marajó,

nas margens,

nas vielas,

onde a sobrevivência é grito,

é oração,

é luta diária.

 

O Estado fecha os olhos pros pobres,

abre tapete vermelho pros afortunados,

e o gueto?

O gueto é tachado de otário,

de culpado,

de descartável.

Como se a vida ali valesse menos,

como se o sofrimento tivesse preço,

como se dignidade fosse luxo.

 

Mas eu não abaixo mais a cabeça.

Eu falo, eu aponto, eu denuncio.

Porque enquanto esse país finge que não vê,

eu vou ser voz.

Voz de quem cansou,

de quem vive,

de quem sente,

de quem sabe:

 

não existe nação justa

num lugar que escolhe quem merece ser humano.

  • Autor: Nana (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 25 de novembro de 2025 00:19
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 4
  • Usuários favoritos deste poema: Arthur Santos
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    ... uma cegueira coletiva que ninguém admite ter...
    É também isso o que se passa no meu país e a ditadura espreita!
    Poema denúncia exceletemente escrito.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.