SERVIÇO C SENHA 2 BALCÃO 4

Arthur Santos

SERVIÇO C SENHA 2 BALCÃO 4

 

venha, venha,

retire aqui a sua senha...

e eu espero sentado

num sofá branco.

serviço A, senha oito, balcão sete...

isto promete.

passa mais uma vez

uma camisola amarela

e eu de sentinela

à espera.

continuo sentado.

 

um jovem casal

senta-se ao meu lado.

sacam os dois do telemóvel

e isolam-se do mundo.

nem por um segundo

se olham.

a mente abstractamente imersa.

não há conversa.

afinal

o que conta,

é o mundo virtual.

 

de repente uma mulher

vestida de preto,

senta-se à minha frente.

olha em redor

o aspecto dos sofás.

senta-se, acomoda-se e zás,

levanta-se e vai-se embora.

foi um ar que lhe deu

nem chegou a aquecer o lugar.

 

a mim nada me move.

continuo à espera.

serviço B, senha oitenta e cinco, balcão nove...

nunca mais chega a minha vez.

começa bem este mês.

isto nem dá para sorrir.

acho mas é que vou dormir.

só não durmo

porque parece mal.

 

um sujeito

vagueia divertido pela sala

de telemóvel colado

ao ouvido.

anda de cá para lá,

de lá para cá,  

a contar a sua vida

a toda a gente

e eu perdido,

afundado no sofá.

e eis senão quando...

ah! finalmente

serviço C, senha dois, balcão quatro

sou eu... vou andando.

  • Autor: Arthur Santos (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de novembro de 2025 07:30
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 13
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