VERDADES INDECENTES
Me foderam.Com classe, com beijo na boca, com mãos trêmulas e perfume barato.Me foderam enquanto eu dizia “eu te amo” com a voz embargada e a cueca na mão.
E eu deixei.
Deixei porque o amor é um estupro consentido quando a alma tá carente.
Ela gemeu.Gemidos de santa envenenada, com o crucifixo entre os seios e os grandes lábios sujo de mentira.Eu acreditei.Claro que acreditei.
Sempre fui um devoto obediente
Ajoelho até pra cafajeste se me oferecer uma migalha de eternidade.
Chupei as promessas dela como quem suga hóstia erótica.De quatro, com o orgulho enfiado no rabo.
Pedi perdão por existir demais.Por sentir demais.
Por amar errado.
Mas ela gozou no colo de outro.
Com as pernas que me enlaçavam o pescoço.
Com a boca que sussurrava “meu amor”
enquanto engolia o pecado com gosto.
E o que eu fiz?Nada.Bati punheta pro nosso passado enquanto ela sorria na sacada com o novo amante
Fui um profeta do vexame.
Um São Sebastião da sacanagem.
Crivado de flechas amarado pelas mãos
Fui atravessado não por soldados inimigos
mas por bilhetes mentirosos, promessas mansas e mensagens apagadas às três da manhã.
Fui o corno sagrado.
O mártir do gozo alheio.
O santo que levou chifres no altar e ainda teve que agradecer pelo pão partilhado.
Fui o beato idiota que benzeu o motel.
E ainda pagou o Uber.
Sabe o que mais dói
Não é meu corpo traspassado
Nen tão pouco o corpo dela em outro.
É o olhar.Aquele olhar de quem já foi tua e agora te enxerga como esmola emocional.
E os outros?Os respeitáveis?
as tias de coque e Bíblia debaixo do braço?
Os moralistas de gravata, os santos, os padres, os coaches da felicidade,Todos com a piroca da maldade escondida no bolso e o riso pronto pra minha crucificação. dizendo:
“Perdoa.Seja maior."
Erga a cabeça, porra nenhuma!
Com a cabeça erguida, a lâmina corta
Sim,assumo que me fodi.
Mas agora escrevo de dentro do cu do mundo.
Com o sangue nas mãos, o esperma seco no lençol,
e a alma cheia de casca, pronta pra cuspir verdades que não cabem nas novelas das seis.
E se isso é ser vulgar,que venha o apedrejamento.
Mas que me apedrejem nu,com a honra exposta,
a dor latejando,e o grito de quem amou tanto que virou monstro.E Quer saber?
Não tem redenção.Não tem cura.
Tem cicatriz, tem pus, tem ferida aberta.
Tem cheiro de sangue, de pora de suor frio escorrendo das promessas quebradas.
Por que o amor quando não correspondido é uma orgia disfarçada de sentimento
E casamento e uma sacanagem vestida de branco, com véu, aliança ternos de linhos e testemunhas hipócritas.E a diferença entre um motel e o altar é que no motel todo mundo sabe que tá lá pra foder.
No altar, todo mundo finge que vai ser fiel.
Porque no fim, meus amigos
toda virtude não passa de ilusao
E todas dignidades serão queimada
Mas algumas vão gozar antes de arder
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Autor:
C.araujo (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 21 de novembro de 2025 02:51
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
- Usuários favoritos deste poema: Arthur Santos

Offline)
Comentários1
Charles Araújo, o amigo é Poeta. Da sua poesia só posso dizer: GENIAL. Nåo tenho mais palavras.
Devoro todos os seus poemas, dá gosto lê-los.
Abraço.
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