lendo um café

Giovana Aparecida


sempre que bebo café
sinto suas palavras
delicadas e brutas doces e amargas
bebo meu café sabendo que suas palavras podem me machuca
os cafés que faço são amargos
prefiro beber café feito por outra pessoa
não tenho certeza de como vai ser
porque o café tem ideias que causam nostalgia?
eles escrevem cafés encorpados
enquanto os meus ainda são ralos
meu café é escrito amargo
nos deles, açucarados
não sei escrever um bom café
e ainda estou aprendendo
mas tem gente que gosta de café ralo e amargo
qual será o gosto da minha poesia?


Sempre que bebo um café, o dia acende uma luz, um vapor sobe leve e a alma se traduz, na primeira sorvida quente, o sono logo se esvai, um aroma persistente, que a mente distrai, a xícara na minha mão, é um pequeno calor, um doce e breve sermão, de um novo e calmo vigor e assim sinto todo o dia o sabor amargo doce da minha poesia!


Eu inicio o ato de ler o livro;
no entanto, o aroma do café fresco constitui a frase inaugural.
A página se esforça para cativar minha atenção,
mas o vapor sobe gradualmente,
narrando uma história que se limita exclusivamente às horas da manhã.
Eu tomo um gole —
é como ter virado inadvertidamente para uma página incorreta
e perceber que ela possui ideias sobre meu ser
que superam minha própria autoconsciência.
A narrativa persiste em sua existência estática,
aguardando meu engajamento,
mas o café...
ah, o café interpreta minha essência primeiro:
analisando minha urgência,
acentuando minha reticência
e inscrevendo nas margens imperceptíveis
tudo o que permanece desarticulado.
Em última análise,
não tenho certeza se concluí a narrativa
ou talvez tenha sido o café.
O que permanece evidente
é que ambos os elementos persistem dentro de mim
até certo ponto

  • Autores: Giovana Aparecida, Arthur Santos, Melancolia...
  • Visível: Todos os versos
  • Publicado: 21 de novembro de 2025 00:56
  • Limite: 6 estrofes
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  • Categoria: Não classificado
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