Às vezes só quero dizer “eu te amo” e nada mais.
Às vezes, quando alguém pergunta demais, eu fecho a boca
e me entulho no silêncio.
Queria só estar com quem eu gosto,
mas o mundo insiste em ser alto demais,
um bocado de gente falando alto.
E às vezes é o contrário: tudo tão vazio, tão só,
que até o ar pesa.
E isso me irrita também,
porque o mundo parece me forçar a ficar no claro
quando tudo que eu queria era uma sombrinha.
Na festa de formatura da minha antiga escola,
me escondi no banheiro por um instante.
Fiquei ali, encarando a parede,
respirando o que sobrou de mim.
Pensei em besteiras — as de sempre —
essas que chegam devagar, mas machucam rápido.
Eu não me importava.
Ou talvez me importasse demais.
Tudo meio torto.
E a velha pergunta voltou a bater, insistente:
por que eu tenho que decidir tudo agora?
Por que me pedem respostas quando eu nem sei a pergunta?
Sabe… eu queria chorar até a garganta secar,
chorar até afogar as coisas ruins.
Queria rir até acordar o prédio inteiro,
rir até desmontar e virar outra coisa,
até não me reconhecer.
Queria ser enorme, só que, do jeito que eu escrevo,
parece que no fim sou só sombra com pressa,
palavra que não se forma.
Olho em volta e penso:
essas pessoas não são mais o meu povo — e aí? —
então por que dói tanto não pertencer?
Eu estava tão animada pra festa,
mas no banheiro, sentada olhando o teto
enquanto a música escorria pela porta,
a animação virou distância,
como um braço que se afasta sem culpa.
Me levantei, lavei as mãos e me olhei no espelho.
Disse baixinho que sim…
que eu ainda podia me divertir,
que ainda havia pista, luz e música me esperando.
Que eu podia existir ali
do mesmo jeito que todo mundo.
Quando saí, duas amigas vieram me buscar.
Viram o desalinho no meu rosto
e me deram doces como quem oferece abrigo.
Foi simples, mas foi tanto.
A paz veio pequena, mas veio, não sei.
Só sei que depois daquilo, eu soube que podia levantar
e ir praquela pista dançar.
E dancei.
Por toda aquela madrugada.
Quando cheguei em casa, só pude agradecer por ter encontrado aquelas pessoas,
por ter provado de novo
o gosto raro daquele carinho amigo.
Às vezes penso em dizer “eu te amo”,
não por grandeza, mas por verdade.
E essa vontade fica aqui, guardada na luz mínima,
um fósforo tímido entre os dedos,
ardendo em silêncio até o instante certo,
o instante de rever quem me traz de volta
um pedaço de mundo
onde eu não me sinto sozinha.
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Autor:
Magz!!! (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 19 de novembro de 2025 01:04
- Comentário do autor sobre o poema: Amanhã é minha formatura, talvez tbm saia um poema dela.
- Categoria: Amizade
- Visualizações: 5

Offline)
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