De tanto amar, quase me perdi de mim

Vênus Não Terra

Eu estava pensando.

Quando a consciência acorda,

eu escrevo para lembrar.

Escrevo para curar.

 

Mas e quando o coração

insiste em errar?

Mesmo quando a mente

já fez as malas

e foi embora?

 

A vida inteira tentei

pensar com a cabeça,

mas meu coração —

teimoso, barulhento —

nunca sossega

e não me deixa.

 

Desde pequena, meiga.

Mas por que insisto

em quem não quer mover

um único dedo?

 

Se eu já sei

que não vai mudar,

por que Deus

me fez assim?

 

Papai me disse que

nada na natureza

existe por si.

 

Os rios não bebem

a própria água.

As árvores não comem

o próprio fruto.

O sol não brilha

pra si.

As flores não guardam

o perfume.

E Jesus — não se sacrificou

por Ele, mas por nós.

 

“Viver para os outros”,

ele disse,

“é lei da natureza.”

 

Mas até que ponto amar

antes de me perder de mim?

 

Tudo na natureza

só dá

porque está vivo.

nutrido.

forte.

 

A árvore sem água

seca.

A flor sem cuidado

morre.

O rio sem nascentes

vira pó.

 

E o sol…

até ele precisa

de equilíbrio

pra não ruir.

 

Então, por que eu insisto

em quem nada devolve?

 

Não é fraqueza amar —

é ser inteira.

Mas até o inteiro quebra

quando ninguém o sustenta.

 

Você não é rio seco.

Nem flor esquecida.

Mas, se insiste em dar

a quem te drena,

a quem te apaga,

a quem te rouba o brilho,

vai se perder

no espelho de alguém

que não te vê.

 

O coração insiste.

A mente enxerga.

E a mente não mente:

quem nada te devolve

não merece o que você carrega.

 

Dar é lindo.

Doar é sagrado.

Mas até o sol se recolhe

antes de destruir

o que toca.

 

Você também precisa

recolher-se.

proteger-se.

cuidar-se.

salvar-se.

 

Porque a vida —

a vida de verdade,

a que pulsa,

a que arde,

a que floresce —

só começa

quando você entende

que você

é o começo,

o centro

e o próprio sustento.

  • Autor: Vênus (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 19 de novembro de 2025 00:57
  • Comentário do autor sobre o poema: Antes de qualquer amor, você. Deixo aqui meu agradecimento: obrigada, papai, por me mostrar a natureza do amor. Só não me ensinou a viver sem você.
  • Categoria: Carta
  • Visualizações: 4


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