DESEJOS MAL REZADOS NA PORTA DO PÚDICO PUTEIRO

Charles Araújo

DESEJOS MAL REZADOS NA PORTA DO PÚDICO PUTEIRO

 

Na porta do púdico puteiro,

onde o pecado se veste de roupa limpa

e o silêncio parece quase uma oração.

Eu, que sou o próprio retrato de uma oração errada,

esperando um milagre que não virá 

não porque Deus não queira,

mas porque até Ele sabe que eu sou caso perdido.

 

Ela desceu do salto com a graça de quem carrega o mundo,

mas, ah, que mundo, meus amigos — o de sempre,

onde a dignidade já foi trocada por uma taça de vinho

e um sorriso disfarçado de quem já sabe de tudo,

mas finge que ainda não.

 

Ela passou, do meu lado como uma santa sem altar,

e eu, apóstolo caído e de ressaca,

me ajoelhei na calçada, nunca ato de comfisao e preces 

rezando Credo e ladainha pra que a noite não fosse só mais um clichê

de promessas quebradas e carências mal curadas.

 

Porque no púdico puteiro,

onde a fé é só uma peça de teatro e o pecado,

Sim , o pecado é sempre a única atriz principal 

o desejo mal rezado,

que sempre volta pra missa

mesmo sem altar, sem padre, sem redenção.

 

Dos males o menor naquela noite ao menos nao foi clicher 

 

Não ria.

Ou ria, vá lá.

Aqui não tem final feliz — só lençol amassado, e uma ressaca moral com batom e cara lavada

 

Ela parecia uma padoeira 

E eu, claro, um devoto desiludido,

aquele que troca a cruz por uma garrafa e a fé por um decote.

Porque no fundo, quem não trocaria, não é?

É tudo muito conveniente quando se está afogado até o pescoço em engano e lamúrias...

 

Ela tinha aquele olhar,

o tipo de olhar que disfarça a dor,

mas finge que adora Chico Buarque — como se isso fosse salvar alguém.

Falava baixinho, falava bonito,

mas eu já sabia, né?

Falava como quem reza antes de fazer sacanagem.

 

E eu, com a alma mais suja que a de judas Iscariotes 

Depois de visitar a casa de câmbio 

acreditei.Que tonto!

Fui o bom moço por cinco minutos e depois,

bem, depois fui quem eu sou de verdade.

Ajoelhei no altar da luxúria e bati palmas pro demônio.

 

Ela disse que não era dessas.

E eu, claro, fiz cara de quem respeita.

Respeitei até o limite do meu instinto.

Depois fomos ao que importa: o pecado.

 

Então meus caros...

que noite!

Uma santa de saia justa, dizendo “me perdoa” enquanto me arranhava as costas.

E eu, naquela mistura de êxtase e culpa,

me perguntando se não era o diabo quem estava escrevendo aquela cena.

Porque, no fundo, não hávia diferença.

 

Dormi com ela como quem dorme com uma esperança.

E acordei, como sempre, com a ressaca,

não da bebida, mas da vida.

 

Ela não deixou bilhete.

Deixou perfume, cílios postiços na pia,

e um silêncio que gritava:

"Você foi quase que eu pensei."

 

Mas, veja bem —

nem eu sei mais que eu sou 

Acho que Sou o que sobrou de um homem que já foi quase romântico,

mas hoje é só mais um funcionário público da frustração existêncial 

 

Ela se foi como dona do mundo: de salto alto e dignidade.

E eu fiquei, como sempre:

de ressaca e arrogância ferida,

tentando escrever alguma coisa bonita pra disfarçar que fui um bom Cortez com elegância.

 

Mas quer saber?

Se sou menos do que ela imaginava

Ou se ela foi santa mesmo,

não sei.

Só sei que el

a pecou comigo.

E isso, meu caros irmão...

isso já vale a  homilia 

E a queda do altar....

 

  • Autor: C.araujo (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de novembro de 2025 23:46
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: SADE, Arthur Santos
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    Sem palavras para a beleza deste poema.

    • Charles Araújo

      Obrigado, pela leitura e apreciação!!



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