Coisas Que a Vida Ensina Sem Avisar

Luana Santahelena


A vida tem dessas manias estranhas:
aparece com seus tropeços,
suas tristezas amassadas,
e nos entrega tudo
sem nem perguntar se estávamos preparados.
Mas, lá pelas tantas,
a gente percebe que cada tombo
é só uma forma meio estabanada
que o destino encontrou
para nos ensinar a levantar melhor.
E o sofrimento?
Ah, esse professor rabugento!
Chega sem bater na porta,
derruba nossas certezas,
mas, no fim, deixa sempre um bilhetinho:
“Você ficou mais forte, viu?”
É assim que vamos seguindo,
entre desilusões que depois viram risadas,
e obstáculos que, com o tempo,
acabam parecendo menores
que a xícara de café
que seguramos de manhã.
E no fundo — segredo nosso —
a vida nunca quis nos machucar demais:
só queria ter certeza
de que aprenderíamos a andar
com um pouco mais de graça
e um tantinho mais de poesia.


— És tu de novo, Dor?
Não te cansas de mim?
Já te dei noites, páginas,
lágrimas escondidas no banho,
dias em que nem o espelho me reconhecia.
— Vim porque fui chamada,
sussurra a Dor.
Não por palavras,
mas por cada silêncio teu.
— Mas eu não te pedi.
Já não te quero.
Achei que com o tempo…
— Com o tempo, aprendi teu nome.
Com o tempo, virei casa.
Sou aquela ausência que ficou cheia de ti.
— Por que voltas justo agora,
quando eu comecei a respirar sem gemer?
— Porque amar dói em parcelas.
E você só pagou a primeira.
— Então é isso?
Não há cura?
O amor é doença crônica,
e tu, o sintoma que não cessa?
— Não sou doença.
Sou a cicatriz viva do que foi inteiro.
O que te dói,
é o que um dia fez sentido demais.
— Mas não quero mais lembrar.
O cheiro, o toque,
a voz sussurrando no escuro —
cada memória é um tropeço.
— E mesmo assim,
você pisa nelas todos os dias.
A dor que dói é tua forma de manter
o que já se foi —
presente.
— E se eu amar de novo?
Se eu reinventar meu peito,
abrir janelas e deixar o sol tocar
o que restou de mim?
— Amar de novo é repetir a febre,
mas com fé de que o remédio virá.
Mesmo que eu volte — e voltarei —
cada dor nova traz em si
uma esperança antiga.
— Então és castigo?
— Não.
Sou lembrança.
Sou a prova de que você sentiu.
De que, por um instante,
viveu mais do que podia suportar.
— Mas por que não vais embora?
— Porque eu sou tua costela.
E a saudade —
ela só dói quando encosta em mim.
{Sezar Kosta}

  • Autores: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo, Sezar Kosta
  • Visível: Todos os versos
  • Publicado: 14 de novembro de 2025 19:51
  • Limite: 6 estrofes
  • Convidados: Público (qualquer usuário pode participar)
  • Comentário do autor sobre o poema: A dor chega silenciosa, quase despercebida, mas deixa sementes que só o tempo sabe fazer germinar. Quando tudo parece desmoronar, descobrimos em nós forças que antes não conhecíamos, capazes de reorganizar os fragmentos da vida com mais sabedoria. Aos poucos, a luz retorna, suave e persistente, lembrando que cada ferida é também um caminho para renascer. E quando sorrimos novamente, não é por ter esquecido, mas porque aprendemos que aquilo que não nos destrói se transforma em força e esperança.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3