A vida tem dessas manias estranhas:
aparece com seus tropeços,
suas tristezas amassadas,
e nos entrega tudo
sem nem perguntar se estávamos preparados.
Mas, lá pelas tantas,
a gente percebe que cada tombo
é só uma forma meio estabanada
que o destino encontrou
para nos ensinar a levantar melhor.
E o sofrimento?
Ah, esse professor rabugento!
Chega sem bater na porta,
derruba nossas certezas,
mas, no fim, deixa sempre um bilhetinho:
“Você ficou mais forte, viu?”
É assim que vamos seguindo,
entre desilusões que depois viram risadas,
e obstáculos que, com o tempo,
acabam parecendo menores
que a xícara de café
que seguramos de manhã.
E no fundo — segredo nosso —
a vida nunca quis nos machucar demais:
só queria ter certeza
de que aprenderíamos a andar
com um pouco mais de graça
e um tantinho mais de poesia.
— És tu de novo, Dor?
Não te cansas de mim?
Já te dei noites, páginas,
lágrimas escondidas no banho,
dias em que nem o espelho me reconhecia.
"— Vim porque fui chamada,
sussurra a Dor.
Não por palavras,
mas por cada silêncio teu."
— Mas eu não te pedi.
Já não te quero.
Achei que com o tempo…
"— Com o tempo, aprendi teu nome.
Com o tempo, virei casa.
Sou aquela ausência que ficou cheia de ti."
— Por que voltas justo agora,
quando eu comecei a respirar sem gemer?
"— Porque amar dói em parcelas.
E você só pagou a primeira."
— Então é isso?
Não há cura?
O amor é doença crônica,
e tu, o sintoma que não cessa?
"— Não sou doença.
Sou a cicatriz viva do que foi inteiro.
O que te dói,
é o que um dia fez sentido demais."
— Mas não quero mais lembrar.
O cheiro, o toque,
a voz sussurrando no escuro —
cada memória é um tropeço.
"— E mesmo assim,
você pisa nelas todos os dias.
A dor que dói é tua forma de manter
o que já se foi —
presente."
— E se eu amar de novo?
Se eu reinventar meu peito,
abrir janelas e deixar o sol tocar
o que restou de mim?
"— Amar de novo é repetir a febre,
mas com fé de que o remédio virá.
Mesmo que eu volte — e voltarei —
cada dor nova traz em si
uma esperança antiga."
— Então és castigo?
"— Não.
Sou lembrança.
Sou a prova de que você sentiu.
De que, por um instante,
viveu mais do que podia suportar."
— Mas por que não vais embora?
"— Porque eu sou tua costela.
E a saudade —
ela só dói quando encosta em mim."
{Sezar Kosta}
A vida não toca a campainha.
Entra.
Tira os sapatos no meio da sala
e bagunça o tapete que você jurou manter alinhado.
Ela mostra que algumas respostas
não vêm com ponto final,
e que tem pergunta que dói menos
quando a gente para de procurar.
Ensina que saudade não devolve ninguém,
mas afina a gente por dentro,
como quem estica corda de violão
até achar o som certo.
Que amor é verbete em movimento:
ora cresce, ora murcha,
mas sempre deixa um cheiro aceso
no canto mais esquecido do peito.
Ensina também que coragem
é só o nome bonito
que damos ao medo
quando decidimos ir assim mesmo.
E que felicidade é bicho arisco —
não se caça, se acolhe.
Vem quando quer,
fica pouco,
mas faz barulho suficiente
pra gente lembrar que existe.
E no final, sem aviso,
a vida sussurra que o mundo não cabe nas mãos,
mas um instante cabe.
E isso, quase sempre,
é o que salva. *Melancolia"
ENSINO FUNDAMENTAL
A vida foi a ‘Mestra’, Juíza e intercessora
Apontou as suas leis e com a sua régua
Educando-me, sequer deu-me alguma trégua
Ensinando-me o respeito pelas suas regras
Com o lindo ‘charminho’ de uma professora
Nos anais que eu conservo na memória
Me recordo, em meio à tanto choro e riso
Que aprendi antes de formado o juízo
Que ter um lar materno era preciso
Embora a ‘VIDA’ fosse minha mãe na história
Como o barco sacudindo em vendavais
Dias, noites, vendo longínquo o porto
Aprendi, pela ‘VIDA’, o desconforto
Do que era externar o absorto
De um Lar sem a presença dos meus pais
Os ensinos variáveis dessa ‘instrutora’
Relembra para quem tinha esquecido
Que nem sempre a nota é consoladora
Sábio é quem pra ‘titia’ der ouvidos
E nunca misturar sentimentos envolvidos
Se fosse possível. eu mesmo, á todo ano
Iria sugerir tais questões lhe perguntando:
Quem me ensinou que cedo fosse amando
Na primeira ilusão com que fui sonhando?
E como viverei sem o amor nunca esquecido?
(elfrans silva)
Num canto sombrio de uma casa antiga,
repousa um carcomido espelho,
que a todos intriga,
coberto por uma camada de poeira
e memórias esquecidas
no calor da velha lareira.
Ele reflecte não apenas a imagem,
não apenas uma desconhecida paisagem
mas também os segredos
mais profundos da alma
que se escoam entre os dedos.
Aqueles que se atrevem a encará-lo,
através de um brilhante halo,
muitas vezes vêem muito mais
do que o seu próprio rosto.
para além de imagens triviais
vêem também tristezas e manias,
vêem inexplicáveis cenas do passado
entrelaçadas num destino
que parece traçado.
- Autores: Bulaxa Kebrada (Pseudónimo, Sezar Kosta, Melancolia..., Elfrans Silva, Arthur Santos
- Visível: Todos os versos
- Finalizado: 29 de novembro de 2025 20:00
- Limite: 6 estrofes
- Convidados: Público (qualquer usuário pode participar)
- Comentário do autor sobre o poema: A dor chega silenciosa, quase despercebida, mas deixa sementes que só o tempo sabe fazer germinar. Quando tudo parece desmoronar, descobrimos em nós forças que antes não conhecíamos, capazes de reorganizar os fragmentos da vida com mais sabedoria. Aos poucos, a luz retorna, suave e persistente, lembrando que cada ferida é também um caminho para renascer. E quando sorrimos novamente, não é por ter esquecido, mas porque aprendemos que aquilo que não nos destrói se transforma em força e esperança.
- Categoria: Não classificado
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