estava tudo tão triste
que a tristeza se contorcia de alegria
não por desdém,
mas por saber-se plenamente viva
naquele breu que lhe cabia.
a alegria, por outro lado – ali, tão vazia,
sentiu uma pontada profunda
e desconfiou de sua própria claridade:
haveria nela ainda alguma luz
ou apenas o cansaço de brilhar?
o medo, com temor de si,
recolheu as bordas de seu imenso corpo
e implorou que o deixassem dormir
— estava exausto de sustentar
todas as noites do mundo.
a saudade, antiga e teimosa,
esfregava os olhos tentando lembrar
de quem era mesmo que sentia falta,
mas a falta era tanta e tamanha
que ela se perdia na própria lembrança.
a esperança, tropeçando em seu verde,
quis saber por que existia:
se era por promessa de aurora
ou por hábito de abrir janelas
que não davam pra lugar nenhum.
e o amor — sempre ele —
num gesto terno de se abraçar,
percebeu que não cabia no abraço:
era grande demais para tanto
e pequeno ao mesmo tempo.
no fim, cada sentimento
reparou no outro como num espelho torto:
a tristeza sorria com dentes de chuva,
a alegria chorava um riso transparente,
o medo se encolhia para caber no próprio nome,
e a esperança, sem entender nada,
abria mais uma janela, quase ofegante
para ver se alguém a sentia primeiro.
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 14/11/25 --
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Autor:
Antonio Luiz (
Offline) - Publicado: 14 de novembro de 2025 10:44
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3

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