Entre as sombras do adeus

Eu disse que não ia,

prometi — com as pontas dos dedos cruzadas no bolso —

que desta vez tudo seria diferente.

Poderia ter ficado.

Erguido um abrigo com retalhos de silêncio,

cozido esperança no fogo lento do entardecer,

trançado tua ausência com fios de paciência,

como quem espera uma chuva que talvez nunca venha.

Mas não.

Não fiquei.

Não consegui.

Não quis.

(ou quis demais — e às vezes,

é o jeito mais fraco de não querer nada.)

Eu poderia ter sido porto,

mas fui tempestade.

Poderia ter sido sombra,

mas ventava tanto em mim

que até as promessas se encolhiam.

Eu te amava —

mas como se ama a chama:

com olhos ardentes,

com o peito aberto,

com urgência de ver o crepúsculo desabar.

E doía não ficar.

Doía mais que partir.

Doía como uma janela aberta em noite de vendaval.

Eu te daria tudo,

menos aquela parte minha que foge.

Essa parte que chama por mim

quando me vê de mãos dadas com outro.

Essa parte que me veste de ausência

antes mesmo de eu sair.

Eu te daria o possível.

Mas meu amor é feito de impossíveis.

Eu tentei — juro —

amar como se ama em silêncio,

como se ama com raízes,

como se ama para ficar.

Mas sou feita de vento.

E de desculpas suaves.

E de vontades que me atropelam.

Perdão.

Eu poderia ter sido tanto.

Mas fui eu.