Grito silencioso

Nelton Hunguana

Haaaa que sensação estranha, não me admira já que o médico acaba de fechar o tecido que escondia as minhas entranhas.

Mas há algo mais, parece-me a sensação de cansaço e que já não aguento mais.

Não lembro como cheguei aqui só do motorista andando na contramão.

 Haha tenho a certeza de que se podesses me dirias que desistir não é uma opção.

Não que eu queira, mas sinto que ontem foi a última vez que segurei na tua mão.

Isso me gera medo, medo porque sei como vais te sentir quando eu te deixar só, o sentimento de perda e desamparo quando do meu peito o coração não emitir mais nenhum som.

Mas tu não precisas ter medo porque isso é só para perdedores, e esse perdedor lamenta o facto de te ter feito sentir tantas dores.

E a minha alma gemia e gemia de dor, porque estava sendo consumida por ódio e rancor, um ódio que eu sentia de mim mesmo, por ser um perdedor.

E quando lembrares de mim, não penses que por algum motivo eu mereça o teu perdão, porque não, não mereço, amaste alguém como eu e por isso tiveste que pagar um grande preço.

Quando chorares sei que terás sempre alguém para te dar um lenço, porque vencedoras como tu sempre têm pessoas que lhes deem apreço.

Não que eu queira me comparar, mas é facto que mesmo se eu trabalhar e trabalhar, por mais dinheiro que eu juntar, nós dois nunca teremos o mesmo preço.

Mas obrigado, obrigado por estares comigo, obrigado mesmo porque sei que não mereço.

É com muita dor que te escrevo esta carta que embora seja leve carrega um grande peso, um peso que vem de uma alma que grita um grito silencioso.

  • Autor: Nelton (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de novembro de 2025 13:59
  • Comentário do autor sobre o poema: É uma carta de alguém que não soube amar, mas soube ser amado, uma realidade que assombra muitos, eu me senti identificado, e você?
  • Categoria: Carta
  • Visualizações: 2
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Comentários1

  • Arthur Santos

    caro poeta...
    A sua capacidade de descrever emoções é fascinante.



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