Lueur

Caule

Gostaria que ela existisse antes de mim.
Desenhasse — imponente, vistosa e brilhante —
antes que eu pudesse sonhar em tropeçar.

 

Gostaria que seu caminho transformasse minha trajetória,
que, no momento em que pusesse os olhos em mim,
me transformasse.

 

Imagino a vida que eu teria se a abraçasse tão profundamente
que me fundisse em seu poder.
Sucumbiria à potência inquestionável de sua forma,
me tornaria essa versão devastadora
que toma para si toda a verdade que a compõe.

 

Não titubeia a voz,
nem hesita na chama de uma vela
suscetível a apagar com o tom suave de uma brisa.

 

Seria inquestionável,
indomável,
como um cavalo livre cuja crina escapa para os lados com o vento.

 

Seria como um bicho,
confiando infalivelmente em seu instinto aguçado e corpóreo.


Seria mais do que mente:
seria também casco,
ombros,
coxa,
pés avoados — irretocáveis.

 

Não quero voar.
Quero andar com minhas pernas, confiantemente.
Segurar o mundo pelo caule,
absorver cada fragmento debaixo do meu nariz.

Fincar raiz, arrancar a raiz,
desmanchar, recompor,
nascer infindavelmente,
sucumbir ao fim e planejar o reinício.

 

Pois sei: há algo valioso debaixo de toda a sujeira.
Há algo que brilha debaixo de toda a poeira.
Há algo que é só meu debaixo da bagunça desenfreada.
Minha voz está em algum lugar em meio ao ruído agudo —
e se eu me esforçar um pouco,
se eu me esforçar o suficiente,
vou encontrar o que busco.

 

Existe, em algum lugar, a força que me manteve de pé até aqui;
que resistiu ao mais vil dos dilemas sem cessar fogo;
que desatou na minha alma a energia que precisei
para me manter acordada
quando foi irresistível dormir para sempre.

 

Preciso mergulhar tão densamente nas minhas profundezas,
tão mais, tão fundo,
que não seja mais necessário respirar.
Serei tão eu,
e o que me cerca será tão feito de mim,
que nos fundiremos — e não haverá risco de afogamento,
pois seremos feitos da mesma matéria.

 

Meu núcleo me pertence
como nada mais me pertence.
Meu núcleo me pertence
como esses tijolos jamais me pertencerão.
Meu núcleo jamais partirá
porque minha aparência mudou
ou porque o que tenho é pouco.

 

Meu núcleo não cessará fogo.
Meu núcleo me compõe.

 

Preciso sair do lugar.
Preciso de combustível para fazer o inimaginável.
Preciso me transformar em tamanho e força inesgotável.
Crescer e atingir a altura dos meus sonhos.
Rugir com a força do que é necessário
para me tirar de onde estou e me levar —
em frente.

 

Preciso urgentemente mover meus pés, meus braços, meu peso.
Preciso sair da inércia,
derreter o gelo que me cerca.
Preciso urgentemente dar um passo,
depois outro.

 

Preciso chegar em algum lugar — qualquer um.
Preciso sair.

  • Autor: Caule (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de novembro de 2025 19:01
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    Este poema é a tradução perfeita de sentimentos.



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