Ele caminha entre as pessoas como quem atravessa um sonho,
um vulto entre rostos apressados e vozes sem rosto.
Aprendeu cedo que o mundo se move melhor
quando acreditam que você sente o mesmo.
Cada gesto seu é um cálculo,
um reflexo treinado de humanidade.
Sabe quando sorrir, quando abaixar o olhar,
quando oferecer o ombro certo na hora certa.
Tudo medido — até o silêncio.
Por dentro, o som é outro:
um zumbido constante, uma calma antinatural.
Não há medo, nem culpa — apenas uma pausa infinita
entre o que deveria sentir e o que realmente sente.
As pessoas falam sobre amor, dor, esperança...
ele observa como um cientista diante de um inseto raro,
anotando reações, testando limites,
querendo entender o que nunca lhe pertenceu.
Nos olhos, um brilho que engana:
não é calor, é reflexo.
Brilho de lâmina — frio, limpo, exato.
Um espelho que devolve o que o outro quer ver.
Ele não mente — apenas veste verdades emprestadas.
Sabe que empatia é uma linguagem,
e aprendeu a falá-la sem acento,
sem emoção, mas com perfeição.
Às vezes, se pergunta como seria sentir de verdade.
Um toque que não fosse cálculo,
um abraço que não fosse encenação.
Mas o peito é uma casa sem portas,
e o coração, apenas um móvel antigo
onde nada se move mais.
Há noites em que o silêncio pesa tanto
que ele quase acredita ouvir um eco —
não de remorso, mas de tédio.
Um vazio que o observa de volta,
curioso, paciente, eterno.
Ele vive assim: entre a máscara e o espelho.
Entre o que é e o que o mundo espera.
E cada vez que sorri,
a porcelana trinca um pouco —
mas nunca quebra.
No final "ele" na verdade sou eu.
Sou eu quem tenta sentir,
sou eu quem calcula até a forma de respirar.
Me desculpem a todos quando menti que sentia o mesmo
talvez eu tentasse mas a vida me ensinou muito mais rápido.
Aquilo que eu tentei entender mas nunca entendi, isso deixou
de ser proteção, virou necessidade.
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Autor:
Isabel para alguns Sayuri para outros (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 7 de novembro de 2025 09:08
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3

Offline)
Comentários1
A escolha do vocabulário é excelente.
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