Ah, que vontade me assoma de vos furtar para mi, que desejo me consome de quebrar as leis do mundo e ser venturoso! Por mim, correria agora, se vossa mercê quisesse, e tras vós eu iria, non correndo, mas voando com ligeireza tamanha, somente por alcançar vossos lábios tão doces e desejosos.
Grande é a ânsia que tenho de ofender as ordenanças e ser ditoso, de raptar-vos com amores e levar-vos aos meus aposentos, para gozar de nossa ventura. Que fervor sinto em passar as mãos por vossas curvas, como de um alaúde bem torneado; de beijar-vos as mãos, os braços e o pescoço alvíssimo.
Como queria eu ter ousadia de criar nosso encontro tão sonhado, tão desejado, tão imaginado e desimaginado. Nenhum outro pensamento me tomaria senão o de vós ali, ante mim, sorrindo com doçura e gentileza, acercando-vos de meu corpo ardente e ansioso.
Se me fora dado deter o tempo, detê-lo-ia para ficar convosco e acalentar a chama que arde em nossos peitos, o desejo que arde em nossas mentes. Quisera eu ser tresloucado para quebrar tudo e correr a vós.
Mas creio que já louco estou, pois em vez de andar pelas ruas bradando meu desejo, me recolho a este quarto, escrevendo letras abrasadas que mal contêm a vontade que tenho de vos furtar ao meu leito.
Louco estou, e alucinado me deixastes! Non vos culpo por serdes tão fermosa; antes, culpo o tempo, que tardou em mostrar-me vossa presença. Se naquele pátio, naquele dia, quando vos vi, soubesse que seríeis minha perdição ardente, correria para roubar-vos um beijo que sangrasse nos lábios.
Rogai a alguém que leve meu coração e o esconda, que já o perdi por esta paixão demoniada — por esta mulher que me lança à perdição e ao doce tormento do amor.
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                        Autor:    
     
	091 (Pseudónimo (
 Offline) - Publicado: 3 de novembro de 2025 20:09
 - Comentário do autor sobre o poema: H.R.
 - Categoria: Amor
 - Visualizações: 2
 

 Offline)
			
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