COLONOS E TUPIS

Arthur Santos

COLONOS E TUPIS

Em troca dos recursos locais os navegadores colonialistas ofereciam aos indígenas bens europeus. Ferramentas de ferro, facas, machados, espelhos e pentes. Esses bens eram valiosos para os indígenas. As ferramentas de metal facilitavam o trabalho e os objectos tinham um forte valor simbólico que serviam para os tornar importantes face a outras tribos. 

O escritor humorista brasileiro, Luís Fernando Veríssimo, falecido em 30 de Agosto de 2025, brincou com a situação numa crónica que com a devida vénia transformei neste poema (Aqui lhe presto as minhas homenagens):

 

os colonizadores pisaram terra "pindorama"

e ficaram apaixonados pelo panorama

duma natureza virgem e vibrante

como nunca tinham visto até ali.

foram logo rodeados de indígenas tupi,

todos com "acangataras" voluptuosas,

belos "cocares", feitos com penas vistosas.

 

olharam-se mutuamente curiosos,

ambos se perguntando receosos:

- quem será esta gente?

 

a falar não se conseguiam entender.

então como havia de ser?

os indígenas tinham para dar,

os colonos tinham que pagar.

 

começaram então as negociações,

embora com perigosas tenções...

 

o indígena ofereceu tomates,

belos, luzidios, escarlates,

depois de vistas e analisadas...

- para que servem essas coisas maradas?

- para fazer refogados molhos saladas

- tudo bem nada mal

eu ofereço ferramentas de metal

e em bom estado.

- negócio fechado.

 

agora, diz o indígena com palavras sensatas,

tenho aqui para ti uns sacos de batatas.

- e o que faço eu com essa bolas?

- levas para a tua terra estas sacolas

e a tua mulher faz coisas bem bonitas,

noisettes, rotis, batatas fritas...

- tudo bem, eu dou-te facas afiadas

que te podem facilitar as caçadas

e estão em bom estado.

- negócio fechado.

 

olha, disse o indígena ao colono parceiro,

tenho aqui o fruto da cacueiro.

- e o que faço com essa coisa sem graça?

nada há que com ela se faça

- pois mas com ela fazes chocolate.

vais ver que vai ser uma conhecida arte.

- vou acreditar em ti e dou-te mais pentes

para usares nas tuas gentes

e de brinde mais um machado

e em bom estado.

- negócio fechado.

 

- e que mais tens para mim meu safado?

pergunta o colono interessado

- ah! para esta não podes ser fraco,

tenho aqui um forte tabaco,

vais pagar bem e não há fiados.

- tudo bem, eu pago com machados,

vão-te ser úteis nas tuas trabalheiras,

serão a tuas boas companheiras

e estão em bom estado.

- negócio fechado.

 

o indígena agradeceu a ferramenta de metal

e disse: -tenho para ti um brinde especial

porque foste honesto e leal

e essa é a nossa doutrina,

toma lá uns pacotinhos de cocaína.

 

- obrigado mas quero mais meu filho,

quero os teus papagaios e o teu milho

para o plantar na minha terra de raiz

e quero essas argolas que trazes no nariz.

em troca dou-te espelhos e pentes.

mas o indigena resmungou entre dentes:

- não! isso daqui de modo nenhum levas.

nessa altura fizeram-se trevas.

 

os colonos atacaram os infelizes

e roubaram as argolas dos seus narizes.

como era impossível derrotar os invasores,

os indígenas praguejaram alguns dissabores:

 

que a batata, essa beleza,

torne a tua raça obesa.

 

que o chocolate, com ou sem mentol,

te aumente o colesterol.

 

que o tabaco se torne num vício

e seja para ti tenebroso suplicio.

 

que a cocaína nunca te dê calma

e te destrua a tua alma.

 

e por último, a maior praga:

que o tomate, esse fruto generoso,

se transforme num ketchup rançoso!!!

  • Autor: Arthur Santos (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de novembro de 2025 07:49
  • Comentário do autor sobre o poema: Em troca dos recursos locais os navegadores colonialistas ofereciam aos indígenas bens europeus. Ferramentas de ferro, facas, machados, espelhos e pentes. Esses bens eram valiosos para os indígenas. As ferramentas de metal facilitavam o trabalho e os objectos tinham um forte valor simbólico que serviam para os tornar importantes face a outras tribos.  O escritor humorista brasileiro, Luís Fernando Veríssimo, falecido em 30 de Agosto de 2025, brincou com a situação numa crónica que com a devida vénia transformei neste poema (Aqui lhe presto as minhas homenagens):
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 6
  • Usuários favoritos deste poema: JT.
Comentários +

Comentários2

  • Wilson Karvalho

    Gostei, faz parte da Historia brasileira. Muito bom.

  • JT.

    Adoro esses escritos, falou em tupi e comigo mesmo.
    Ficou muito bom o seu escrito.
    Parabéns.
    Anaue apegaua auarraa.
    JT



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