COLONOS E TUPIS
Em troca dos recursos locais os navegadores colonialistas ofereciam aos indígenas bens europeus. Ferramentas de ferro, facas, machados, espelhos e pentes. Esses bens eram valiosos para os indígenas. As ferramentas de metal facilitavam o trabalho e os objectos tinham um forte valor simbólico que serviam para os tornar importantes face a outras tribos.
O escritor humorista brasileiro, Luís Fernando Veríssimo, falecido em 30 de Agosto de 2025, brincou com a situação numa crónica que com a devida vénia transformei neste poema (Aqui lhe presto as minhas homenagens):
os colonizadores pisaram terra "pindorama"
e ficaram apaixonados pelo panorama
duma natureza virgem e vibrante
como nunca tinham visto até ali.
foram logo rodeados de indígenas tupi,
todos com "acangataras" voluptuosas,
belos "cocares", feitos com penas vistosas.
olharam-se mutuamente curiosos,
ambos se perguntando receosos:
- quem será esta gente?
a falar não se conseguiam entender.
então como havia de ser?
os indígenas tinham para dar,
os colonos tinham que pagar.
começaram então as negociações,
embora com perigosas tenções...
o indígena ofereceu tomates,
belos, luzidios, escarlates,
depois de vistas e analisadas...
- para que servem essas coisas maradas?
- para fazer refogados molhos saladas
- tudo bem nada mal
eu ofereço ferramentas de metal
e em bom estado.
- negócio fechado.
agora, diz o indígena com palavras sensatas,
tenho aqui para ti uns sacos de batatas.
- e o que faço eu com essa bolas?
- levas para a tua terra estas sacolas
e a tua mulher faz coisas bem bonitas,
noisettes, rotis, batatas fritas...
- tudo bem, eu dou-te facas afiadas
que te podem facilitar as caçadas
e estão em bom estado.
- negócio fechado.
olha, disse o indígena ao colono parceiro,
tenho aqui o fruto da cacueiro.
- e o que faço com essa coisa sem graça?
nada há que com ela se faça
- pois mas com ela fazes chocolate.
vais ver que vai ser uma conhecida arte.
- vou acreditar em ti e dou-te mais pentes
para usares nas tuas gentes
e de brinde mais um machado
e em bom estado.
- negócio fechado.
- e que mais tens para mim meu safado?
pergunta o colono interessado
- ah! para esta não podes ser fraco,
tenho aqui um forte tabaco,
vais pagar bem e não há fiados.
- tudo bem, eu pago com machados,
vão-te ser úteis nas tuas trabalheiras,
serão a tuas boas companheiras
e estão em bom estado.
- negócio fechado.
o indígena agradeceu a ferramenta de metal
e disse: -tenho para ti um brinde especial
porque foste honesto e leal
e essa é a nossa doutrina,
toma lá uns pacotinhos de cocaína.
- obrigado mas quero mais meu filho,
quero os teus papagaios e o teu milho
para o plantar na minha terra de raiz
e quero essas argolas que trazes no nariz.
em troca dou-te espelhos e pentes.
mas o indigena resmungou entre dentes:
- não! isso daqui de modo nenhum levas.
nessa altura fizeram-se trevas.
os colonos atacaram os infelizes
e roubaram as argolas dos seus narizes.
como era impossível derrotar os invasores,
os indígenas praguejaram alguns dissabores:
que a batata, essa beleza,
torne a tua raça obesa.
que o chocolate, com ou sem mentol,
te aumente o colesterol.
que o tabaco se torne num vício
e seja para ti tenebroso suplicio.
que a cocaína nunca te dê calma
e te destrua a tua alma.
e por último, a maior praga:
que o tomate, esse fruto generoso,
se transforme num ketchup rançoso!!!
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                        Autor:    
     
	Arthur Santos (Pseudónimo (
 Offline) - Publicado: 3 de novembro de 2025 07:49
 - Comentário do autor sobre o poema: Em troca dos recursos locais os navegadores colonialistas ofereciam aos indígenas bens europeus. Ferramentas de ferro, facas, machados, espelhos e pentes. Esses bens eram valiosos para os indígenas. As ferramentas de metal facilitavam o trabalho e os objectos tinham um forte valor simbólico que serviam para os tornar importantes face a outras tribos. O escritor humorista brasileiro, Luís Fernando Veríssimo, falecido em 30 de Agosto de 2025, brincou com a situação numa crónica que com a devida vénia transformei neste poema (Aqui lhe presto as minhas homenagens):
 - Categoria: Não classificado
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 - Usuários favoritos deste poema: JT.
 

 Offline)
			
Comentários2
Gostei, faz parte da Historia brasileira. Muito bom.
Adoro esses escritos, falou em tupi e comigo mesmo.
Ficou muito bom o seu escrito.
Parabéns.
Anaue apegaua auarraa.
JT
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