AS DITADURAS

Arthur Santos


As ditaduras
são sempre obscuras
lideradas por figuras
desprezíveis e impuras
usam violência e censuras
Os ditadores
são uns horrores
energúmenos sem valores
corja de malfeitores
Faltam à verdade
matam a liberdade
refugiam-se na religiosidade
desconhecem a integridade
desconhecem a lealdade
pelo poder têm sagacidade


Há venenos que se vendem em frascos de fé,
com rótulos escritos em letras suaves:
“cura”, “paz”, “amor”.
O gosto é doce —
até que a língua percebe o ardor da mentira.
O ditador veste terno de salvação,
fala como quem reza,
age como quem corrige o mundo.
Mas sua cura é silêncio,
seu remédio é medo em dose diária.
E não há diferença entre ele
e o amor que exige demais,
ou a palavra que não permite desvio.
Ambos moldam o que é vivo
até caber no molde da obediência.
O poeta também sente o açoite das normas,
a alma emparedada em gramáticas.
O amante, preso na promessa de eternidade,
esquece que o amor respira movimento.
No fim, todo veneno é promessa de ordem —
e toda liberdade começa
quando se aprende a cuspir o doce
antes que ele queime o coração.


Vem o tirano com olhos de aurora,
traz na voz o perfume da esperança
e nas mãos o ferro que molda o medo.
Semeia ordem nos campos da alma,
mas o que colhe é silêncio.
Há amores que falam em cura,
mas adoecem o que tocam;
há palavras que prometem liberdade,
e vestem algemas de ouro.
A mentira veste o rosto do bem
com tecidos de ternura.
E o coração, cego de fé,
se entrega ao abraço que aperta.
Mas há quem veja —
quem escute o som que o poder abafa,
quem sinta o gosto do veneno
no doce da promessa.
Esses, os poucos despertos,
sabem que a luz também fere,
que o amor também prende,
e que o silêncio mais puro
pode ser grito de prisão.


O ditador põe e dispõe,
cala, prende, tortura e mata
quem se lhe opõe,
veste a capa de democrata
e numa sangrenta orgia,
destrói a democracia.


Com astúcia, se move a língua do ditador,
Cheio de falsa propaganda,
De terno com aroma de esperança,
Mas com sangue debaixo do que vemos na superfície.

  • Autores: Arthur Santos (Pseudónimo, Sezar Kosta, Bulaxa Kebrada, PoetadeMarte
  • Visível: Todos os versos
  • Finalizado: 17 de novembro de 2025 10:00
  • Limite: 15 estrofes
  • Convidados: Público (qualquer usuário pode participar)
  • Categoria: Sociopolítico
  • Visualizações: 14
Comentários +

Comentários1

  • Rosangela Rodrigues de Oliveira

    É triste essa realidade que infelizmente os patriotas que pagam pelo bem estar da burguesia que pensa que ganha a vida nos gritos até que aparece um mais forte e grita estraçalhando todos os vidros. Parabéns pelo mesclado poeta.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.