os restos de alguém que só podia o nada

santilar

eu ando a pé

eu ando descalça

eu ando pela rua

pela rua que não me leva a lugar nenhum

faz um tempo já que eu tô andando

quantos quilômetros eu já percorri?

não houve um momento que eu simplesmente decidi por ela percorrer

mas eu me lembro que houve um momento da minha vida

que eu estava no ônibus,

sentada

com o tempo, eu fui me levantando

com o tempo, eu fui indo em direção à porta

não sabia o por quê

mas antes que desse tempo de pensar

eu já estava descendo

e indo

sem rumo

pra rua que leva ao nada

o nada naquele momento era tudo que eu queria

não, tudo que eu queria não,

mas tudo que eu podia

eu não fui expulsa do ônibus

foram as pessoas que me fizeram sair dele

e wu acabei me perdendo

a rua está escura

não acho uma luz

nem todos vão à rua que não leva a lugar nenhum

só vão,

muitas vezes sem querer

muitas vezes sem avisae

por que ja tinham gritado

e ninguém tinha escutado

o grito acaba virando um grito silencioso

mas eu queria que até o silencio os outros escutassem

porque o silencio mesmo em silencio, faz barulho

ninguém notou meu sumiço

todos acham ainda que eu estou lá

"tem destino?" "tem final?"

acho que a rua que leva pra lugar nenhum

leva a algum lugar

pro nada

não sei se quero descobrir

se algum dia eu chego lá

se alguém vai me procurar e conseguir me achar

mas o que é o nada?

o nada é a ausência de algo

mas que algo é esse?

são tantas perguntas

que eu continuo andando

em busca da resposta

em busca de alguém pra puxar a mão e me tirar daqui, mas nunca achei

em busca de um lugar menos frio

em busca de sair daqui

mas talvez, a rua que não leva a lugar nenhum

só quer mostrar que fugir não adianta

fugir e se isolar de todos

fingir que nada tá acontecendo

porque, no fundo, eu mesma sei

que eu tô mentindo

mentindo até pra minha eu

porque não importa o quanto eu fuja

eu nunca vou conseguir fugir de mim mesma

o quanto eu finja

eu nunca vou conseguir me convencer

que a máscara que eu uso

é meu rosto verdadeiro

afinal, eu tô na rua que não leva a lugar nenhum

eu sou uma mentirosa, 

e todos que estão aqui mentem

e pela primeira vez,

eu não me sinto diferente.

 

santilar

  • Autor: santilar (Offline Offline)
  • Publicado: 25 de outubro de 2025 08:06
  • Comentário do autor sobre o poema: eu tentei gritar, mas ninguém ouviu a caneta nao me ouve também mas com ela eu paro um pouco de gritar o que me restou foi escrever algum dia vou sair dessa rua
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 2


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