O irmão caçula.
O irmão mais velho.
Quinze anos de surras,
Quinze anos de exploração,
Quinze anos da morte dos pais,
Quinze anos ausentes de amor
paterno
fraterno
ou qualquer outro.
O irmão mais velho
e um tabefe.
O irmão caçula
e o beijo frio no chão.
O irmão mais velho sorri.
O caçula chora, morde os lábios,
Odeia.
A faca, o salame.
A faca corta o salame.
O salame bate no caçula.
Um pedaço desce goela abaixo
do mais velho.
Risos, humilhações,
repreensões, ordens,
mais humilhações...
E o dinheiro?
O irmão mais velho
toma dinheiro do caçula.
A faca, a mesa.
A faca sobre a mesa.
O irmão caçula,
os olhos, as lágrimas,
O Ódio!
A mão do caçula treme.
O mais velho recosta-se,
distrai-se...
Faca e mãos tremem,
o caçula tem Ódio,
tem a faca.
Os pés amedrontados caminham.
A cabeça é só Ódio.
Corpo e alma caminham juntos!
A faca é pontiaguda,
feita para matar
ou cortar salame.
O caçula também
só que traçaram seu destino.
O irmão mais velho
quase dorme.
A faca descreve um movimento
frenético até o coração da vítima.
Sangue, sangue, sangue...
Nem houve tempo para um grito.
O irmão mais velho morreu.
O irmão caçula
entreabre um sorriso.
O corpo são tremores,
os pensamentos inexistem.
De repente,
Choro, desespero, arrependimento,
tarde, tarde...
Volta o sorriso,
transforma-se em riso
alto e incontrolável.
O irmão mais velho,
o sangue.
O caçula corta um dedo,
o sangue tem de ser diferente,
Não é!
O caçula estático.
O sangue, a fresta da porta.
O sangue escorre para a rua.
Um vizinho, dois vizinhos,
gente da redondeza, gente de longe,
multidão.
Polícia.
Porta arrombada.
Multidão para dentro.
Cena horrenda,
gritos horrendos.
O caçula, a faca vermelha.
O mais velho, o peito dilacerado.
O caçula e mais facadas,
mais Ódio,
mais riso,
mais choro,
mais arrependimento,
quinze anos em facadas.
Brados na multidão:
Louco!
Fratricida!
Assassino!
Cruel!
Vamos linchar!
Policial impotente,
Paralisado.
O caçula para,
olha ao redor,
não ouve, não vê...
Lambe os dedos sujos de sangue.
O caçula
sente o amargor da morte,
experimenta, experimenta mais,
nada o satisfaz.
Qual é o gosto da morte,
o gosto integral?
Decide senti-lo,
já que a doce vida jamais existiu.
A faca, o peito do caçula,
A morte!
- 
                        Autor:    
     
	eduardo cabette (
 Offline) - Publicado: 24 de outubro de 2025 17:04
 - Categoria: Não classificado
 - Visualizações: 3
 

 Offline)
			
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