Este livro, de capa já puída e gasta, Era o cofre de toda a minha escuridão. Atestado solene da alma solitaria.
Guardei nestas páginas o medo não dito, A lágrima que o mundo não devia ver, O grito que a garganta reteve, restrito, E a dor que prometi nunca mais sofrer.
Aqui jaziam amores que findaram cedo, As traições que me fizeram calar a voz, O peso do fracasso, Tudo escrito em letras pálidas.
Por anos, foi meu templo e meu castigo, Um espelho do que fui e senti. Um diário-fantasma, um cruel amigo, Que me impedia de viver o que hoje aprendi.
Mas a alma se cansa de ser um arquivo. O fardo do passado não pode durar. Hoje, ergo-o nas mãos, e decido que vivo. É hora de queimar, é tempo de sarar esse meu peito ferido.
Ao fogo! Entrego a lenha de minha miséria, O papel se contorce, a tinta se esvai. A labareda lambe a vida etérea, E o sofrimento vira pó, sobe e cai.
E enquanto as cinzas sobem em fumo leve, Sinto a cicatriz do peito enfim se abrir. Não sou mais o prisioneiro que o diário escreve. Agora percebo que o fogo levou parte de mim consigo e percebo que como o livro as chamas também vão me consumir.
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Autor:
Roberto (
Offline) - Publicado: 23 de outubro de 2025 16:50
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5

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