Golesma

Alex Santidarko

 

Eu, Golesma, sou esse úmido pecado,
Esta víscera pálida que o lodo gerou;
Um slow motion de gosma, um ser condenado
A rastejar nos limbos que Deus renegou.

 

Meu corpo é um fantasma, uma lenta miragem,
Uma baba de astros em putrefação;
Caroço sem fruto, pesado ultraje
Ao vento, à luz viva, à rédea do cão.

 

Sou a umidade que o sol persegue,
A vereda de prata, o rastro fatal
Que deixo na pedra, e que a pedra esquece...
Sob qualquer maldada língua áspera de sal.

 

Ó, grandes montanhas, ó, águias no etéreo,
Vós tendes o abismo e o dom de voar!
Eu tenho a caveira, o caminho funéreo,
E o medo de um Deus que me fez apenas em mim,me escorar.

 

Rastejo no tempo, sou minha própria campa,
Um âmbar de lodo, um eterno será;
E carrego comigo a secreta trampa
De ser, para sempre, o que o mundo rejeitará.

 

E quando um raio fende a abóbada plúmbea,
E a terra se bebe nas chuvas de verão,
Sinto-me um verso úmido num poema
Que ninguém jamais lerá, com repulsa ou paixão.

 

Sou a vida que não ousa acabar,
Nem ousa ser bela; sou o lento, o impuro,
O fruto do pântano, a errar e a errar
Neste mundo que é húmido, vasto e obscuro.

 

Até que uma pedra, ou um passo inclemente,
Finde minha trilha de aflito cristal...
E volto ao silêncio do lodo dormente,
Golesma, o aborto do Bem e do Mal.

 


By Santidarko 

  • Autor: Alex Santidarko (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de outubro de 2025 06:15
  • Categoria: Gótico
  • Visualizações: 1


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