Uma nova fase

Acho que a vida é feita de muitas fases.

E a gente nem sempre sabe quando uma termina e a outra começa.

Mas a gente sente.

Sente quando o pensamento muda, quando o olhar muda.

Quando algo dentro da gente diz:

“opa… não sou mais aquela pessoa de antes.”

E é nesses momentos que a gente começa a repensar tudo.

A casa, o corpo, o jeito de viver.

Vem uma vontade de mudar o cabelo, de reorganizar o quarto,

de começar um projeto,

de terminar o que ficou pela metade.

De fazer diferente.

É como se a gente tentasse se reencontrar nas pequenas coisas do dia.

Como se arrumar um canto da casa fosse um jeito de arrumar a própria mente.

E eu tô exatamente nessa fase agora.

Tipo uma nova etapa do jogo, com outros objetivos, outras missões.

Foi aí que decidi limpar minha galeria.

A primeira vez que parei pra olhar de verdade minhas fotos antigas.

E vi o quanto eu era feliz com pessoas que hoje já não estão mais.

Algumas porque não fazia mais sentido,

outras por decepção mesmo.

Por um instante, pensei em apagar tudo.

Mas quando comecei a olhar,

vi sorrisos, cabelos, roupas,

versões de mim que já não reconheço.

E foi aí que percebi:

ainda que eu não me veja mais ali,

aquela também era eu.

Fazia parte da minha história.

E eu não preciso apagar pra seguir em frente.

A vida teve altos e baixos,

e muita coisa veio das minhas próprias escolhas.

Algumas boas, outras impulsivas.

Mas todas me levaram pra algum lugar.

É louco pensar como uma decisão muda tudo.

Onde a gente mora, o trabalho, as amizades,

até quem a gente se torna.

Às vezes eu penso:

será que eu teria sido mais feliz se tivesse escolhido diferente?

Mas aí eu lembro de uma coisa que aprendi com História:

cada pessoa age a partir do tempo e do espaço em que vive.

E isso vale pra mim também.

As escolhas que eu fiz foram as que eu conseguia fazer naquela época.

Com a cabeça que eu tinha.

E tudo bem.

Pensar assim acalma.

Porque eu sei que ainda vou errar,

ainda vou mudar de ideia,

e tá tudo certo.

O importante é tentar lidar com o que vem

da melhor forma que eu puder.

Outro dia percebi que até meu estilo tava em crise.

Eu não sabia o que realmente gostava de vestir.

Passei tanto tempo trabalhando com moda,

seguindo o padrão do shopping,

que acabei misturando o que eu usava por gosto

com o que eu usava por obrigação.

E agora tô nessa reconstrução,

tentando entender o que é realmente meu.

Engraçado, né?

Organizar o ambiente também organiza a cabeça.

Eu nunca fui uma pessoa muito organizada,

mas percebi que quando coloco tudo no lugar,

a mente fica mais leve.

Um incenso aceso, uma música calma,

e de repente tudo parece fazer mais sentido.

Então é isso.

Tô entrando numa nova fase.

Com novos pensamentos, novas reflexões,

tentando manter o coração aberto.

Tem dias em que eu só quero mudar de estado,

criar outro Instagram,

fingir que sou uma nova pessoa.

Sabe quando tu veste uma roupa diferente

e parece que todo mundo te olha estranho,

como se dissesse “isso não é você”?

Pois é.

Às vezes, eu só queria ser essa nova versão

em um lugar onde ninguém me conhece.

E fico pensando

quantas versões minhas vivem na cabeça das pessoas.

Quantas imagens de mim tão por aí,

meio distorcidas, meio esquecidas.

Talvez, se eu pudesse conversar com todas elas,

as que já fui, as que sou, as que ainda vou ser,

eu me reconhecesse melhor.