Pois hoje assumo que havia uma mentira em mim, como aquele algodão doce envolvente.
Um mundo de estampas, onde o mal era um boato e muito, mas muito perigoso, uma invenção dos amargos.
E a vida não pede pra entrar. Ela arranca o disfarce de um só golpe.
E de repente, você vê.
Não é um ver com os olhos. É uma convulsão na alma.
É o espetáculo da feiura, o riso podre da crueldade, a podridão serena sob o mármore revestido.
A inocência não morre, ela é esquartejada, e você é forçado a assistir de dentro.
E essa quebra... meu Deus, não é uma tragédia nenhum pouco elegante.
É um nó na garganta que não desce, um furo no peito que não estanca.
É o desespero mudo e asqueroso de entender que você terá que LHE DAR.
Terá que negociar, TODO santo dia, com esse monstro infernal de mil e uma faces.
Terá que sujar as mãos, manchar a alma, para nele sobreviver.
Mas é aí, bem no fundo, no contato íntimo com o horror, que algo se incendeia.
Você é esvaziado de tudo que era protegido, frágil e doce.
E no lugar, eles despejam a escória do mundo se uma forma mundana... A traição, a indiferença, a lama.
E você descobre... Como sentir um gosto podre terrível, que está andando sobre ela.
Está mais forte. Não uma força bonita. Uma força construída, retorcida, verdadeira.
Porque a pureza intacta é uma deficiência. É uma leveza de quem não tem peso, não tem história.
A criança imaculada é apenas um rascunho do ser humano.
Ela é leve, leviana em sua redoma de vidro
Vê o mundo inteiro em sua visão talhada
O verdadeiro homem, o inteiro, é aquele que carrega consigo o paraíso e o inferno.
Que conheceu o êxtase e o vomitou, que bebeu da tristeza até a última gota.
Só depois de ter sido despedaçado e remendado com a cola grossa da experiência...
Só depois de ter encarado a degradação e não ter enlouquecido...
Só então você pode olhar para o mundo e dizer, com uma voz rouca que não é mais sua, mas é a única que lhe resta...
[Agora te conheço.]
E agora, finalmente, você passa a entender, que pra tudo isso não basta apenas existir só beleza no mundo...
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Online)
- Publicado: 18 de outubro de 2025 00:13
- Categoria: Conto
- Visualizações: 6
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Comentários1
Vigi, bravíssimos, li até a ultima palavra e amei.
Só que sendo meio bronco, não entendi nada que você, quis e disse.
Risosss
Bom Dia e vida longa.
JT
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