Tudo o que eu sou

Adriele Bernardi

Me perco entre contradições,

Dualidades e ecos de mim.

Eles se dividem, respiram

Entre palavras da alma:

Não se rendem à linguagem.

Não se assustam , recuam

Não se curvam à forma.

 

 

O sensível toque me acordou

E rugiu como um leão

O suave brilho me cegou,

E me fez renascer.

Tudo se acendeu, a vida se fez.

E ali percebi o quão frágil

E belo é poder existir.

 

É estar na linha do trem:

Entre o perder e o ganhar,

Entre decidir ir ou ficar,

Entre sentir ou pensar,

Buscar seu próprio caminho

E ainda não poder caminhar,

Mas ter esperança.

 

Raras são as vezes que acordamos

Que vemos a luz queimar,

E incendiar cada célula do corpo

Cada ruga, marca, cicatriz

Ela consome tudo o que foi

E ainda será,

Como se nunca pudera ser.

 

Divino é quebrar a quarta parede,

Entender o que está acima da lei,

Aquilo que se entende apesar de tudo,

Está além do que se toca,

Apesar da performance,

Da moral,

Apesar da vida.

 

 

É entender o mundo pela alma,

Sentir cada devaneio como sonho,

Cada passo como coragem,

Um sorriso por uma lágrima,

É aprender, mesmo sem saber.

Sentir que estar vivo é uma dádiva,

Pois se pode sentir.

 

É desta forma que amo você,

Não cabe nas palavras, nem gestos.

Transcende em si mesmo, como arte.

E se perde na própria tradução.

É o que me faz se render ao que não sou,

Para minha melhor versão.

Para o que sou.

 

 

Te amar me faz ter uma razão,

Mesmo que a razão não se aplique.

Faz com que tenha coragem de lutar,

Mesmo temendo a dor da luta.

Me faz baixar a guarda e entregar

Cada parte minha que sente

A sentir você.

 

O amor é a busca infinita pelo sentido

Ainda que não faça sentido algum.

E tudo que nos toca, tocamos.

Nem tudo que tocamos, nos toca.

É uma rendição ao que nos faz inteiro

Ainda que partes de nós se percam.

 E sempre se encontram.

 

Mais que sentir o corpo, é marcar o tempo

É cravar em suas linhas o cheiro,

O arrepio, o formigar dos dedos,

O grito surdo das batidas do coração

E perpetuar na eternidade

Tudo que marcou a alma.

 

Amar você me fez entender que aceito

Aceito a dor da saudade,

O terror da perda,

O clamor de sua presença,

A tristeza da despedida

E ainda assim, valeria a pena.

Eu aceitaria te amar por mil vidas.

 

Porque não importa o que aconteça,

Eu ainda preciso respirar pra viver

Ainda que sem pensar.

E enquanto respirar,

Minha alma respirará

Sua presença espalhada ao ar

Toda vez que eu respirar.

 

Você é a ponte que me faz acordar de mim

E despertar para o que eu sou

Eu transcendo a vida, ao tocar seus olhos,

Rendo tudo que há em mim

Para sentir tudo que há em você

E o sofrimento é um preço pequeno

Porque o ganho é te amar.

  • Autor: A.M.B (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de outubro de 2025 18:58
  • Comentário do autor sobre o poema: Estou tentando quebrar as regras um pouco e traduzir um pouco do que sinto em poesia moderna. Traduz melhor meus sentimentos. Eu estou entrando em profunda sintonia com Rilke e a filosofia existencialista... eu tenho uma inclinação absurda com essa forma de expressão. Espero que esta ode a existência e ao amor façam vocês refletirem e sentirem pelo menos um pouco daquilo que eu sinto.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 1


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.