Um inverno qualquer

Arthur Mello Noos

Nasci em uma família humilde até demais. Fui praticamente criado por minha mãe e a quem mais quisesse nos ajudar.

No ano de 1982, meu pai pouco aparecia em casa, e minha mãe que havia recebido a promessa dele de que seu compromisso seria unicamente cuidar da casa e de nós(meus irmãos e eu), não tinha trabalho. Com essa atitude do meu pai de sumir e não ajudar em nossa alimentação, começamos a passar muita fome. Nosso alimento era polenta e café preto, muitas vezes não tínhamos nem o básico, papel higiênico era luxo, nos limpávamos com um pano levemente molhado e ensaboado com o sabão que minha avó fazia. Um fato interessante ocorreu no inicio de uma tarde de inverno. Estava sentado em frente de casa olhando para o nada com o cérebro roncando, quando vi nossa gata caminhando pelo muro do vizinho com um pedaço gigantesco de costela. Meu cachorro que estava ao meu lado até então, também viu isso, e largou em disparada ao encontro da gata que a esta altura, já havia pulado para meu pátio, e estava escondida em meio a plantação que tínhamos saboreando seu pedaço suculento de carne. Meu cachorro o qual chamava de urso, reivindicou o que era seu por direito. Eu observava aquilo tudo pasmo, estava vendo a lei da selva tomar seu rumo. Com seu troféu em sua boca, vinha o urso em minha direção com muita satisfação, orgulhoso do seu poder. Neste momento quando ele se deitou ao meu lado para comer, novamente a natureza seguiu seu curso natural, e tomei dele aquele pedaço de carne. Minha fome era imensa, mas não poderia deixar minha mãe que estava costurando para tentar ganhar alguns cruzeiros saber. Meus irmãos estavam dormindo, pois dormindo não sentiam tanta fome, e naquele dia as mamadeiras seriam a base de água, pois faltava o leite. Fui para o banheiro, com aquele pedaço de costela por dentro de minha blusa, e lá me tranquei. Olhei aquele pedaço divino de carne, não lembrava a última vez que havia comido carne, quanto mais um churrasco. Abocanhei com vontade, agradecendo a gata por ter roubado do vizinho, ao meu cão por ter roubado na gata e a Deus por ter me feito mais forte do que meu irmão canino. Depois de devorar a carne, chupei os ossos, e os distribui para meu fiel amigo e para minha gata que desdenhou a recompensa. Minha mãe no entanto, percebeu que havia algo errado…De onde saiu esse osso toka? Informei que não sabia, neguei até onde foi possível, mas eu havia esquecido de limpar meu rosto, o qual estava com tanta gordura quando havia na costela. Tive que narrar tudo o que havia acontecido, esperando logo em seguida levar uma chinelada. Para minha surpresa, ela apenas escutou a tudo, mandou eu me limpar e voltou a costurar. Ela comentou com minha vó sobre o ocorrido naquela mesma tarde, e em seguida minha vó começou a ir nos vizinhos. Cada vizinho contribuiu com um pouco, e lembro que fizemos um churrasco naquele dia. Aquela fumaça em meu terreno...nossa que feliz fiquei. Mas não pude comer muito, pois fiquei enjoado, creio que devido a lei da selva e seus ensinamentos. Minha família ria do ocorrido, e em meio a distração de todos, a gata obteve merecidamente seu troféu, desta vez comeu seu pedaço roubado no telhado.

 

Arthur de Mello Noos

  • Autor: Arthur Mello Noos (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de outubro de 2025 11:08
  • Comentário do autor sobre o poema: Minha maravilhosa infância.
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 2
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