Pequena

Nara Francim

Eu estou me afastando da minha inocência,
ela cai como areia,
escorrendo entre os dedos
enquanto tento segurá-la com força.

Queria voltar a ser aquela criança feliz,
que sorria sem medo,
um sorriso pequeno,
mas tão luminoso
que abrigava o mundo inteiro.

Pequena, você lembra?
As tardes no quintal,
a poeira grudada nos pés,
o cajueiro grande, 
cheio de folhas.

Você corria sem pressa,
chorava sem vergonha,
e acreditava que todos os abraços
eram eternos.

Pequena,
o que você acha do que me tornei?
Olhos mais cansados,
riso mais contido,
um peito que aprendeu cedo demais
o peso do silêncio.

Às vezes ainda te vejo no espelho,
escondida no canto da boca,
no jeito de segurar o lápis,
na mania de conversar sozinha.
Você não me deixou, não é?
Só se escondeu
na parte mais profunda do meu peito,
esperando que eu me lembre
de chamá-la pelo nome.

Pequena,
volta pra mim.
Ensina-me outra vez
a rir do nada,
a acreditar em tudo,
e, mesmo sendo pequena,
ser maior que o mundo.

  • Autor: Nara Francim (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 13 de outubro de 2025 22:51
  • Comentário do autor sobre o poema: Mensagem para a menina que eu já fui.
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 0


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