Herança de Sombras

FILIPE4OLIVEIRA

A nenhum ser vivo legarei
o fardo de existir.
Reservando a mim este dever,
para não imputar a outrem
a lassidão dos meus dias,
a herança cega dos meus genes.
Serei porto sem barco,
abrigo desprovido de refugiado,
uma lâmpada apagada na noite perpétua,
um cais à espera do mar que não vem.
Mas não transmitirei a nenhum ser vivo
o fardo de respirar entre as ruínas
do futuro lúgubre que nos espera.

  • Autor: FILIPE4OLIVEIRA (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de setembro de 2025 21:43
  • Comentário do autor sobre o poema: Ao escrever este poema, senti a necessidade de assumir para mim o peso de existir, sem repassá-lo a outrem. Ele nasceu de uma consciência profunda: a vida é um fardo inevitável, e cada um deve carregar suas próprias sombras e heranças. Para mim, essas palavras são um ato de cuidado silencioso com os outros. Escolher ser o porto sem barco ou a lâmpada apagada é, paradoxalmente, uma forma de generosidade — de preservar quem amo da exaustão, da desilusão, do peso de um futuro incerto. É um poema sobre solidão, mas também sobre responsabilidade e compaixão. Ele me lembra que enfrentar a própria existência é um dever solitário, mas que há dignidade em não transferir esse fardo. Entre a melancolia e a contemplação, encontrei uma espécie de liberdade: a liberdade de existir plenamente, por mim, e apenas por mim.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 9


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