Inervado

Ultracrepidário

Não há quem negue
o quão mais fácil é negar.
Negar o frio soalheiro da manhã,
os cortes finos na pele
ou o latejo no crânio.
Muito mais fácil beber a sopa fria
do que fazer o jantar.
Muito mais vale correr no asfalto
do que caminhar no relento.

Mas eu não quero.
Não quero deixar de chorar.
Não quero sopa fria.
Não quero correr.

Quero pular num lago de rosas,
deixar seus acúleos me rasgarem
e sentir meus nervos pulsarem.
Quero deixar as vinhas se prenderem
por entre a carne e os ossos,
torcendo as articulações
e apertando o coração,
mundando seu ritmo.
Quero nadar na chuva,
deixá-la congelar a tez
e lavar a meninge,
lembrar-me do quão vivo é seu cinza.

E então,
quero sentar no banco
e ver as nuvens escorrerem.

  • Autor: Ultracrepidário (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de setembro de 2025 12:07
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 1


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.