Reflexões

Maicon Rigon

Ah, as pessoas… Ultimamente, elas têm me dado uma preguiça quase moral. Eu tentei, juro que tentei, garimpar um adjetivo mais interessante, algo mais exótico, mas nada, a palavra é preguiça mesmo. Todos, absolutamente todos, com suas vidas ridículas, acreditando que são os donos do universo. E o pior é que eles realmente acham que estão fazendo alguma diferença.

Olho no olho de cada um e vejo… bom, nada. Não há alma, não há humanidade. Nenhum resquício de espiritualidade. Nos momentos raros em que consigo enxergar algo, é apenas a ânsia desesperada por mais dinheiro, mais poder, tudo isso só para alimentar um egocentrismo incontrolável. Quanta profundidade!

Não estou dizendo que todo mundo precise decorar “Tabacaria” de Fernando Pessoa, ou recitar cânticos tibetanos como se a iluminação estivesse na ponta da língua. Mas, sei lá, falta algo. Uma pitada de tempero. Aquela chama que faz tudo ser um pouco mais interessante, um pouco menos previsível. Todos são iguais, com os mesmos objetivos, os mesmos sonhos, as mesmas ideologias rasteiras. Mergulhados na mediocridade coletiva, como se fossem peças de um grande quebra-cabeça chamado vida, mas sem nunca entender o jogo.

Tudo se torna ainda mais desesperador quando percebo que eu também faço parte dessa multidão. Que eu também sou considerado por mim um bosta. Simplesmente por estar no mesmo universo que eles. Por não ter coragem de começar um revolução, nem mesmo dentro da minha própria vida.

Das máscaras que tanto condeno nos outros tenho uma coleção. Para os amigos, uma. Para a esposa, outra. Para os colegas de trabalho, uma terceira. Mas no fundo, quem sou eu mesmo? Quando consigo ser eu? Quando estou sozinho, em silêncio. Num quarto escuro comigo mesmo. Quando estou absorto numa reflexão ou simplesmente contemplando um pôr do sol, ou observando a simplicidade das coisas. Com a cabeça cheia de pensamentos e um turbilhão de sensações. Sem companhia, sem plateia. Apenas eu e minha essência, que é bem simples, quase invisível, silenciosa. Como uma criança de 8 anos, que ainda sobrevive escondida dentro de mim mesmo sem alimentação.

A conclusão, entretanto, é inexistente. Cada um é aquilo que é, adornando-se com as vestes que escolhe para se tornar — ou quem sabe, apenas para aparentar ser. No final, não há como penetrar na essência do outro; nossos corações permanecem enigmáticos, insondáveis. Somos enigmas vivos, irreconhecíveis e indomáveis. E mesmo que, por um capricho do destino, algum dia essas verdades ocultas venham à tona, o que restaria dessa revelação? Nada, é claro. O mundo está repleto de cemitérios onde repousam poetas e filósofos cujos pensamentos foram incompreendidos em vida, cujas palavras se perderam na indiferença do tempo. E, ao fim, qual o valor disso tudo? Nenhum. O que verdadeiramente me consola é a melancolia que habita em mim, acompanhada da convicção de que, no fim das contas, tanto o Papa quanto o mendigo que me pediu uma moeda ontem no centro da cidade, compartilharão o mesmo destino inexorável. Um fim que, para todos, será igual, imutável e, em sua essência, irrelevante.

  • Autor: Maicon Rigon (Offline Offline)
  • Publicado: 16 de setembro de 2025 12:13
  • Categoria: Não classificado
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