O Encontro Inesperado

Marconi Teixeira

Quando a ave cai do ninho, não se espera algo assim. Eu nem sabia que havia ninhos ali, nem que elas caíam. Talvez eu simplesmente não estivesse mais olhando para cima.

E foi de repente, quase natural. Em um momento, a ave do paraíso estava ali, seu nome anunciando que não pertencia ao meu mundo. Mas nem sei dizer como.

Recolhi-a, sem saber como reagir, tomei-a suavemente na mão. Aquilo me pareceu familiar, pacífico, encantador. Não tinha nome, mas foi o inusitado mais impactante.

A ave não se assustou. Sentia a batida do seu coração pulsar, tranquilo, cadenciado, seguro. Como poderia ter caído do ninho e ainda assim oferecer tanta paz?

Seria ousadia pensar que uma flor atrai aves? Seria eu, então, uma flor sem saber? Não, não acho. Pensei, movido por tanta emoção, que era uma ave do paraíso, mas certamente não foi o meu ser "flor" que a fez ficar ali.

Depois do susto, a admiração. Quem não olha para cima, desaprende o dom de admirar. Mas o encanto reativa, e aconteceu em teu canto. Uau, olhando o canto, olhei quem cantava.

Plumas e penas brancas, amarelas. Olhos que fitei timidamente. Mas acho que em meio a tantas cores, eram azuis. Não sei se foram segundos, minutos, horas ou dias. Nem percebi, embevecido pelo encanto, pelo calor ao tomá-la na mão, pela serenidade.

Eu andava e já me distanciava do ninho. Acho que pela lei natural, se caiu em mim, deve ser para mim. Já havia andado tantas vezes por aqueles caminhos e lugares, percorrera cada um daqueles percursos. Mas agora era diferente.

Causava admiração em quem via. Uma ave do paraíso. Isso faz qualquer um parecer interessante, mas era a ave que comigo estava que tornava tudo interessante. Atraía olhares e comentários. Não é natural nem comum, eu acho. Mas eu sentia como se fosse.

Valia a pena mudar tudo que fazia para estar com ela. Surpresa, espanto, admiração e paixão. Tudo isso deve ter demorado dez segundos para acontecer. Nunca tive tanta alegria. Parecia que ela se sentia tão segura, e a ave do paraíso, em nenhum momento, tentava fugir ou voltar ao seu lugar.

Então, da paixão ao que pertencia à luz, foi o segundo subsequente. O aconchego no potencial do amor foi arrebatador, intenso, estraçalhador. Fui encorajador, fui pátrio de alguém que faz êxodo do seu país e é recebido como rei pelo país vizinho. Agora, eu quem queria estar no ninho. Se tal ave veio de lá, lá é o paraíso da ave.

Foi um pensamento. Era uma ave, e para saber se estava bem, abri suavemente a mão para ver se podia voar. E voou. Mas voava perto, pousava, cantava, embelezava, cantava melodias do piso. Isso e muito mais do que eu já ouvi.

De surpresa, espanto, apaixonado amor, para o estonteante e apaixonado. Deve ter demorado uns vinte segundos. E a cada quarto de segundo, tantas coisas aconteciam, e cada segundo inteiro nunca mais sairia da minha memória.

Tinha que me recentralizar. Você não pode andar por aí com uma ave do paraíso sem realinhar sua própria rota. Mesmo perto, doía pensar na possível ausência sua. Em trinta segundos, estar perto, admirar, era a coisa que mais imaginei ser possível desejar naquela intensidade.

O sol se punha e levantava com um único propósito: você. E como o amor é grande, mesmo que tal amor nunca tenha sido vivido antes. Mesmo que eu não soubesse que a ave do paraíso pudesse amar, mas estava ali pertinho, e eu podia ver que adorava ser amada. Tudo me fazia bem.

Mas num lapso de sanidade, lembrei do ninho. Lembrei que não a origem de quem carrega e desperta tamanho amor, que desperta amor com tanta força, isso deve ter sido aprendido, ensinado, convivido. E pensei com bom senso: melhor deixar voltar para o ninho. O simples fato de pensar me doeu. Tudo, tudo, tudo.

Olhei e disse, com toda a ternura: "Voe". Nem sei explicar. Entre dúvida, confusão, olhar, entre receio, voou. As pessoas que admiravam a beleza da ave disseram ou pensaram, não sei. Eu tremia num turbilhão emocional. Disseram: "Certamente não devia amar tanto assim, ele até disse 'voe'". Ah, amava! Amava com todo o poder que nunca imaginei existir. Se existe uma certeza, é que amava.

E que ama, deixa voar, por saber que o melhor para a ave do paraíso é o paraíso do seu ninho. Tudo que diz respeito ficou em mim, pregado: o cheiro, o jeito, o canto, o calor. E a lembrança. Chegando lá no alto, olhou. Então, não sei se por vingança de ter eu lhe dito "voe", a vi desaparecer em meio às folhagens, sem um único pio.

Os próximos minutos foram terríveis. Mudou a trajetória da minha vida. Não existe nenhum elixir ou semelhante que possa provocar o que a queda do ninho provocou em mim.

Um dia, à tarde, eu nem esperava, veio a ave e pousou suavemente no meu braço, perto do ombro. E o pio que não dera, agora veio como canto. Mas ambos os corações estavam em paz. Agradeci, e com um impulso, ajudei-a a retomar seu voo.

Vez por outra, ainda me pego olhando para o alto. Mas de uma coisa tenho certeza: tem que se amar muito, de verdade, para ajudar a voar de volta ao ninho.

JMT:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Autor: Marconi Teixeira (Offline Offline)
  • Publicado: 13 de setembro de 2025 15:00
  • Categoria: Amizade
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