Ser um fracassado… tem seu valor.
Desde que se reconheça,
desde que se abrace o próprio naufrágio.
Sou um fracasso — completo — como marido.
Fracassei em amar direito,
em ser porto, em ser abrigo.
Como filho? Um silêncio entre dois abismos.
Como neto, fui ausência,
esquecimento vestido de carne e nome.
Como irmão, provavelmente um eco distante,
alguém que existiu — mas nunca o suficiente.
E como ser humano?
Talvez apenas isso:
um ser… humano demais para pertencer,
demais para escapar.
Como aluno, sobrevivi
pela piedade nos olhos das professoras.
Minhas notas foram orações sussurradas
por quem via em mim algo que nem eu via.
Profissionalmente?
Ah… sou um desastre com crachá.
Meus programas têm alma, mas não vendem.
Sou um vendedor que fala bem
mas vende o vazio entre as palavras.
Minha voz… razoavelmente agradável,
é o verniz que encobre o ruído da falha.
Pra mim mesmo, porém —
ah, aí eu sou rei.
Sou monarca de um reino de escombros.
Sou meu único fã,
me aplaudo no silêncio da madrugada,
me admiro como quem observa
um incêndio bonito demais pra apagar.
Porque no fim,
serei minha única companhia.
Meu último sussurro.
Meu último olhar.
E meu maior fracasso?
Ter acreditado
que entre os humanos,
havia espaço pra um de nós.
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Autor:
Maicon Rigon (
Offline)
- Publicado: 10 de setembro de 2025 08:33
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
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