A Ponte e o Abismo

Amor
Como uma palavra tão sublime
pode ser tão ardentemente ansiada?
Acaso, quando ela foi cunhada,
seu criador sabia que seria tão cobiçada?
?Há milênios, o homem, em sua aurora,
começou a se comunicar
por gestos, sons e expressões faciais.
E depois, com o devir do tempo,
a linguagem como a conhecemos foi forjada.
?Então, com o passar das eras, ela foi cunhada:
quatro letras, uma palavra — "Amor".
Algo diminuto, mas periclitante e insidioso.
Um sentimento tão devastador
que faz o mais forte e temido dos homens
cair de joelhos a seus pés.
?Amor… Tu não és tão pérfido
quanto a "Esperança",
representada como a luz no fim do túnel
ou uma escada que ascende do abismo.
Amor… Se o teu criador fosse sábio,
jamais teria te concebido.
Mas, sem dúvida, ele era um visionário
brincando de ser deus,
ou um deus a brincar de ser mortal.
?Pensou Charles Goodyear em ti
quando inventou a borracha?
Talvez, para te apagar, afinal?
?Se o amor é vão, então para que serve?
Senão para:
Afogar-me num devasso mar de dor e amargura,
levar-me a um mundo de escolhas desastrosas e consequências lamentosas,
lançar-me no abismo de minhas lamúrias e indecisões,
para que eu seja o artífice de minhas próprias angústias e arrependimentos,
em busca do vazio que me consome.
?A despeito de tudo, sou eu quem mais te anseia.
Amor… Certamente és um mistério no fundo do abismo,
e uma espada de dois gumes, cega e ferrugenta.
?Mas, mesmo com toda essa agonia,
há um brilho na escuridão.
Onde a esperança se desfaz,
o amor, com sua fúria, persiste.
E se o amor fosse a única coisa real que nos resta?
Um bálsamo para as feridas,
um farol para a alma perdida.
E se o amor fosse, na verdade,
a salvação que buscamos,
escondida atrás de toda essa dor?
Talvez o amor não seja para ser compreendido,
mas para ser vivido.
E talvez, sua verdadeira natureza
não seja a dor, mas a paz.
E se o amor fosse a ponte,
e não o abismo?

                                                              ?Lukas hill