Um olhar diz tudo.
Pra quem sabe ler silêncios.
Esconde-se entre linhas geométricas:
cílios, rugas, íris —
mapas cifrados de quem já viveu demais.
Brilha, sim.
Mas pra quem enxerga fundo,
e não se assusta com o abismo refletido.
Um olhar é código morse:
um piscar, uma pausa,
e você passa a madrugada
tentando decifrar.
É janela da alma,
mas só mostra a pontinha do iceberg.
Todo o resto — naufragado por dentro.
Num olhar cabe uma vida:
passado, presente, futuro.
Erros mal enterrados,
acertos solitários,
pretensões que nunca vão sair do papel.
Sou fã de olhares.
Mas daqueles que ardem de verdade.
Os que mentem já lotaram o mundo,
fantasiados de harmonia e equilíbrio,
como se a alma não gritasse por trás.
Os olhares sinceros viraram espécie em extinção,
escondidos sob óculos escuros
ou dentro de gente que desaprendeu a sentir.
Sou fã de olhares.
Mas dos que doem.
Dos que estão aqui,
sem filtro nem anestesia.
Dos que existem.
Dos nus.
Dos que, mesmo calados,
têm a decência de não mentir.
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Autor:
Maicon Rigon (
Offline)
- Publicado: 3 de setembro de 2025 12:15
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 11
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