ENTRE A LUZ E A SOMBRA

Ao lado escuro que habita em mim,
lembro de um passado feliz que hoje se ausenta.

Noites em claro, pensando em como queria voltar àquela época
em que todo mundo era menino
e só queria brincar sem medo do amanhã.

As segundas-feiras, tomando café com minha vó,
ficaram guardadas na memória.

Às vezes o mundo é injusto:
nos priva de um passado feliz e nos obriga a saborear
um futuro amargo.

Hoje, com 27 anos,
me pego lembrando do meu tempo de criança —
do que vivi, ouvi, brinquei, chorei.

Aos primos-irmãos que guardo no coração,
cada um seguiu seu caminho nessa canção da vida e da alma.

Não achei que minha vó viveria para sempre,
mas sua partida foi um adeus precoce.
Talvez o destino quisesse nos dar uma lição:
viva o hoje, diga que ama no agora,
pois o amanhã ainda será escrito
e o passado já não importa.

Sinto meu coração triste, solitário, cabisbaixo.
Será que vivo da forma correta?
Sinceramente, não sei.

Tenho essa mania de sonhar com viajar o mundo,
mas desisto por tão pouco…
Ainda assim, sou grato a Deus.

Passamos por maus bocados, é verdade.
Faz dez anos que mudei para sempre:
a amargura me tomou,
o sorriso leve se perdeu.

Num piscar de olhos,
a depressão bateu à minha porta
e quase me levou embora.

Criei no íntimo o medo da vida
e desejei o abraço da morte.
Foi então que percebi:
precisava buscar uma saída,
e em Deus encontrei cura para a ferida.

Não sei quando irei sucumbir,
mas até lá não deixarei meu mundo cair.

Posso ser um mágico de verdade
se o sinônimo da verdade for o agora.

A cada passo, um descompasso,
enquanto o mundo gira lá fora.
Com minhas dores do passado,
cantei sobre o presente.

O que pensei ser o fim
mostrou-se um gatilho:
puxei o cão, fiquei loucão,
eternizei meu legado.

Mas o mundo girou,
quase me perdi,
e venci o bobo da corte
que habita em mim.

Hoje sigo pelo caminho do trabalho,
pensando, navegando
em mares distantes da mente.

E ainda me pergunto, por horas a fio:
qual será meu próximo passo?