Ínfima parte do teu eu

F.C.

Atravessa,
perfura,
e costura,
meu corpo ao teu.

No inominável,
cada poro é um segredo,
cada laço, um enredo.
Queima e consome o tudo que resta de mim.

Esqueço,
se apresenta.
Evito,
e em olhos arregalados diz:
— Não! Eu estou aqui.

Debaixo da pedra,
por cima da pele,
na boca que não pronuncia,
nos lábios que ousam ter.

Mas não têm fala,
não têm jeito,
não têm você.

E, ainda assim,
tão presente quanto corpo nu:
calor que imprime em cada parte
a marca da tua digital.

Perde-se na memória,
e ainda está.
Inteiro, como halo dourado,
no espaço,
no tempo,
no que é.

Sei que foi tudo, e não é nada:
mero trocadilho de palavras
para quem tenta, no vocabulário que não alcança,
descrever
“o você”.

Além de ti, mas em ti.
Além de mim, mas em nós.

Toco na digital do mindinho,
ínfima parte do teu eu.
Te toco na minha boca,
na mesma digital que sente o teu gosto.

Um dia sonhei dizer,
ao tocar teus ombros,
num feche de olhos,
ver as flores de tua catedral:
solo fértil, dentro de ti.

“Flores do campo” — eu disse.
Pequeno ramalhete,
o único e necessário
para embelezar toda uma vida.

Abro meus olhos úmidos,
um quase lago —
e, em mesma forma, os teus.

Em respeito ao que não podemos ser:
um passo,
atrás.

Mãos deslizam,
últimas pontas dos dedos se despedem.

Com aquele sorriso que aquece por dentro,
mas não revela dentes.
Apenas reverencia.

Tudo aquilo que talvez,
neste lugar,
ou em algum lugar,
fomos.

  • Autor: F.C. (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de agosto de 2025 13:38
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3


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