O CÃO E O LOBO (cordel)

Maria do Socorro Domingos

Que tal aproveitar o tempo para dar uma espiada no meu cordel e recordar a nossa doce infância, o tempo em que aprendíamos belas lições  através das fábulas?

O Cão e o Lobo
(Cordel)

Estava um lobo tão triste,
Em sua vida a pensar,
Abatido pela sede,
Não podia mais uivar.

Sua fome era tanta,
Estava muito magrinho,
Era somente pele e osso,
Orelhas e o focinho.

De repente, eis que surge
Em sua frente um lindo cão,
Gordo, com o pelo bonito,
Parecendo com um leão.

Com a fome que estava,
O lobo quis se atirar
Ao pescoço do cachorro
E ali mesmo o matar.

Mas o lobo, felizmente,
Ouviu a voz da prudência,
Que dizia: ? Velho amigo,
É melhor ter paciência.

Quem ataca um cão desses
Pode acabar morrendo
Pense, encontre um jeito
Para não sair perdendo.

O lobo pensou e disse:
— Agirei com mais cautela,
Vou fazer um elogio
E ele cai na esparrela.

Aproximou-se do cão
E falou com simpatia:
? Ah, um cão igual a ti
Não encontro todo dia.

És gordo e bem tratado
Com pernas rijas e fortes
Vê-se que és bem feliz,
E que tu tens muita sorte!

O outro disse: — É verdade,
Sou cão fidalgo, não nego,
Mas amigo, podes levar
A mesma vida que levo.
 
E o lobo, espantado,
Perguntou como faria
Para então mudar de vida
Pois ser grã-fino queria.

O cão falou: ? Meu amigo,
Deixa de ser um errante
Digo-te que o meu dono
Transforma-te, num instante.

O lobo, com esperança,
E com os olhos brilhantes,
Sentiu que ia deixar
Aquela vida humilhante.

O cão disse: — Eu te levo
Comigo e, com certeza,
Meu dono gosta de ti
E vais viver na moleza.

Terás ossos de galinha,
Boa carne todo dia,
Um lugar para dormir,
Com a palha bem macia.

Terás também amizade,
Agrados e um bom nome,
E palmadinhas amigas,
E nunca mais terás fome!

O lobo, bem animado,
Disse: ? Claro que eu aceito
Com essa vida que eu levo,
Eu vou é de qualquer jeito.

Disse-lhe o cão: — Porém,
Tens que fazer umas coisas
Guardar direito o terreiro,
Espantando as raposas.

Também não podes deixar
Que de repente um ladrão
Chegue e invada o quintal
O dono não gosta, não!

Disse-lhe o lobo: ? Fechado,
Amigo, vamos embora
E se o patrão se agradar,
Eu fico na mesma hora.

E correram emparelhados,
Bem felizes e apressados
O lobo viu que o pescoço,
Do cão estava amarrado.

Quis saber qual o motivo
Daquela amarração
E perguntou ao cachorro:
— O que é isso, meu irmão!

O cão disse:? É a coleira,
Para me prender à corrente,
De vez em quando o patrão,
Amarra um pouco a gente.

— Ah, então tu não és livre?
Não vives solto no campo?
Disse-lhe o cão:? Claro! Vivo!
Mas, às vezes... no entanto...

Passo muitos dias preso,
Conforme quer meu senhor,
Mas como na hora certa,
Isso é que tem valor.

O lobo parou e disse:
— Meu amigo, na verdade
Podes seguir teu caminho,
Fico só, em liberdade.

Até logo, meu amigo,
Vou viver magro e faminto,
Mas sou um magro feliz,
Livre, dizendo o que sinto!

Fica com a tua gordura,
Com coleira no pescoço,
Sou magro, porém sou livre,
Vou procurar o meu osso.

Dizendo isso correu
E se afundou na floresta,
Dando vivas à liberdade,
Ser livre - É viver em festa! 

Maria do Socorro Domingos

 

(Cordel elaborado com base na fábula de mesmo          nome, atribuída a Esopo, fabulista Grego do Século   VI a.C.)

Comentários +

Comentários3

  • JT.

    Bravos, perfeita.
    Bom Dia Poetisa.
    JT

  • Shmuel

    Adorei! Abraços a nobre poeta!

    Shimul

  • Maximiliano Skol

    Querida Maria do Socorro Domingos, fui estimulado a visitar o MLP pela feliz surpresa de ler o teu comentário do soneto retroativo em fevereiro. Que candura de comentário!! Acho que fechaste com chave de ouro as minhas publicações. Não tenho mais o mesmo entusiasmo para sonetos. Também parece o que queria dizer, já o disse. Talvez eu venha a continuar com algum recado, de vez em quando, quem sabe...
    Continue com a tua cultura intelectual dentro da tua maravilhosa e sensível verve poetica a prestigiar a plataforma MLP.
    Gratidão.
    Beijos.



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