Quero te conhecer como quem descobre
um atalho pro coração da cidade —
sem GPS, sem pressa,
só com o instinto dos desavisados felizes.
Quero te ouvir falar da vez em que confundiu
"trator" com "tartaruga",
e rir como quem reencontra um brinquedo antigo,
daqueles que ainda cheiram a infância e poeira boa.
Quero rir de você,
de mim,
de nós dois tentando fazer panqueca
e produzindo apenas arte moderna no prato.
Quero o som da sua risada invadindo minha rotina
como alarme que toca tarde demais —
mas ao invés de susto,
dá vontade de dançar.
Quero reconhecer teu cheiro no ar,
entre cheiro de pipoca e perfume de elevador,
e saber: é você.
Nem precisa estar perto —
basta meu nariz e minha saudade bem treinados.
Quero cantar contigo
desafinados e felizes,
como dois galos de quintal
tentando fazer um dueto romântico.
A plateia que lute.
A gente canta,
se tropeça nas notas,
mas acerta o tom do riso.
Quero tua mão,
a que encaixa na minha
como se os dedos tivessem ensaiado
a coreografia do carinho.
Quero o leve e o caos.
Quero discutir sobre quem esqueceu a toalha molhada na cama
e, cinco minutos depois,
esquecer o motivo no meio de um ataque de cócegas.
Quero a beleza do ridículo,
as pequenas bobeiras
que constroem castelos de verdade.
Quero o silêncio depois da piada ruim,
e o olhar cúmplice que diz:
"tô contigo, mesmo quando o mundo não ri."
Quero nós.
Mas não os de enroscar e sufocar,
quero os de amarrar pipas,
de fechar sacolas de memórias boas,
de prender sorrisos no tempo certo.
Quero eu e você
num mundo que vive correndo,
a gente —
de mãos dadas e rindo à toa,
caminhando devagar
na direção do sempre.
Porque querer,
meu bem,
é fácil.
Difícil é achar alguém
pra rir da vida junto
e ainda fazer dela
poesia desafinada com final feliz.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 23 de agosto de 2025 18:38
- Comentário do autor sobre o poema: Quero conhecer você devagar, rindo das histórias que tropeçam na língua e acertam o coração. Quero o riso que chega antes da porta abrir, a mão que acha a minha sem mapa e a música que desafina só para virar memória. Quero nós — simples, leves, inteiros.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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