E então... Eu decidi por este estranho curso da alma, não por um mero estudo ou algo compatível, mas uma dissecação perante o espelho cruel da minha propria consciência, conduzida por aquele silencioso confidente, meu terapeuta. E o que eu me alto revelo? Nem verdades, nem mentiras, mas o fim de um ego interior.
Ciclos viciosos... Sim, conheço esses meus demônios íntimos! Eram correntes forjadas não em ferro, mas na mais fraca de todas as substâncias, a minha própria vontade. Uma vontade doentia que, paradoxalmente, achava prazer na própria humilhação, repetindo a pantomina infinitamente, esperando um final diferente daquela mesma "dor", velha sensação tão dependente e que estava acostumada Se é que era dor...
E os amores? Paixões repentinas e flertes? Eu fugia deles? Não, senhor. Antes, corria para lhes oferecer minha alma como um tapete para que pisassem. Era uma idiota, uma sublime idiota que confundia abnegação com salvação! Alimentava os egos alheios, esses ídolos de barro, com as lascas de minha própria dignidade, só para sentir o calor ilusório de ser necessário à tal da sua grandeza fictícia.
As amizades... ah, são poucas. Pois exijo delas o que talvez não exista, uma verdade absoluta, um amor incondicional que nem mesmo eu posso dar por completo e até mesmo oferecer. É a minha culpa? É a culpa deles? É a maldição de nossa época, onde cada alma está condenada ao seu próprio cubículo, a seu "quadrado", como diz. Nem mesmo os laços de sangue quebram esse pensamento fundamental.
Os meus pais... culpa? Que ideia idiota e mesquinha a minha. Eles são tão culpados quanto eu; isto é, infinitamente culpados e infinitamente inocentes. Erraram por um certo amor, por ignorância, por medo, pelos mesmos crimes a qual agora tenho medo que eu cometa. São meus irmãos em algumas desgraça, não meus juízes...
E eu... eu, um ser rasteiro e cheio de vergonha, ainda ouso nutrir uma ideia insuportável a de que tenho um propósito aqui. É a mais orgulhosa das vaidades ou o último suspiro de minha dignidade? Não importa. O importante... O único fator importante é que... é que esta agonia mesma é o prelúdio. Que nesta luta contra o próprio nada, o homem em si, mesmo derrotada, prova sua grandeza. A busca incessante, ainda que sem esperança, é a única resposta que não nos humilha por completo e que nos faz ter a fé e que ainda faço parte de um todo, e que conforta dos meus erros particulares, como a linha que liga cada ser desta época da qual estou inserida.
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                        Autor:    
     
	Anna Gonçalves (Pseudónimo (
 Offline) - Publicado: 21 de agosto de 2025 15:59
 - Comentário do autor sobre o poema: Apenas uma ideia...
 - Categoria: Carta
 - Visualizações: 8
 - Usuários favoritos deste poema: JT.
 

 Offline)
			
Comentários1
Lendo os seus textos, lembrei . Da Colônia Juliano Moreira, numa época remota, onde a loucura se tratava com choque elétrico.
Coisas de um passado que existiu.
Ai, te pergunto se pega?
Risos.
JT
Kkkkkkkkkkk, me senti ofendida agora em... Entrei em choque, literalmente.
Fica em choque não.
E por que a reflexão mau entendida nos da medo.
Tenho certeza, que o seu lado Teatral esta esquecido.
Pois por lá, temos que ser pausados.
Tenho notado, que os seus escritos, tem poucos leitores.
Também pudera ne.
Boa noite.
JT
Sua mensagem me fez pensar... e talvez você tenha razão sobre o 'lado teatral'. Mas acho que atualmente meu palco é outro. E é o palco da confusão, risos. Escrevo menos para uma plateia e mais para o coração mesmo. Não que eu não veja beleza, e amores... Mas deixo que os amores, a beleza e até os clichês mais sinceros tomem conta das linhas de outrem. Como você bem disse, e eu amo isso, poesia é a mistura do que carregamos no peito junto com o que vemos ao nosso redor. Escrevo é para não explodir de tanto sentir. Mas obrigada mesmo por ler a maioria das minhas poesias, fico feliz que tenha surgido um ponto de interrogação ao ler e interpretar. Gratidão! Boa noite:)
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