Sentir Que Nunca Tem Nome

há um lugar dentro de mim que não cabe no corpo.
não tem teto, não tem chão.
não tem cor que o defina, nem som que o alcance.
é onde o espírito respira antes de eu respirar.

não sei se é tristeza, ou se é Deus com saudade.
não sei se é dor, ou se é um renascimento lento.
mas arde como quem ama tudo e não consegue dizer.

às vezes é leve como vento em flor de mato.
outras, é denso como silêncio de animal que sente a chuva antes dela cair.

ninguém me ensinou esse sentimento.
ele chegou um dia, calado, como quem já morava aqui há séculos.
olhou nos meus olhos por dentro,
e sussurrou:
"eu sou tudo o que tu esqueceste que é."

é um amor sem direção.
é uma ausência que preenche.
é uma lágrima que limpa o espírito e não o rosto.

quando fecho os olhos, ele dança.
quando durmo, ele escreve.
quando me perco, ele espera.

não é humano, nem divino — é entre.
é o meio do salto antes do voo.
o instante antes do universo ser criado.

é o sentir que não precisa de nome,
porque vive em todos os nomes ao mesmo tempo.
e ainda assim… é só meu.