O Amor, paixão, química?

A paixão… ah, essa sim é indisciplinada. Chega sem pedir licença, acelera o coração, altera o ritmo da respiração, toma conta do corpo como se o mundo inteiro dependesse de um toque ou de uma voz. É elétrica, imediata, intensa — como fogo que consome tudo ao redor. Os sentidos se afinam para capturar o mínimo detalhe: o cheiro, o som, a forma como a luz pousa no rosto de alguém.

Mas com o tempo, aprendi a colocar a paixão em um lugar separado do amor. A química é arrebatadora, mas não basta para sustentar o que é profundo. O arrepio inicial, o frio na barriga, a euforia — tudo isso é real, mas também é momentâneo. E perceber isso não diminui o sentimento; apenas lhe dá contornos mais nítidos.

Outro dia, rolando o Instagram, vi um vídeo da página dalcalmlneusou. Uma mulher dizia que não se apaixona mais — que hoje está emocionalmente madura para sentir a química e, ao mesmo tempo, entender que aquilo, sozinho, não é amor. Contava que pode viver a euforia, brincar com as amigas dizendo que está apaixonada, mas sabendo que talvez dure 38 horas, porque o que move aquilo são hormônios. E que reconhecer isso é essencial para se proteger, colocar limites e saber quando é, de fato, amor.

E amar, descobri, não é se privar de si mesmo — é entender que o outro também é livre, tão livre quanto você. Às vezes, na ânsia de cuidar, criamos um casulo, e esse casulo, por mais aconchegante que pareça, sufoca. O amor saudável não é posse; é equilíbrio. É a arte de sustentar o “nós” sem perder o “eu” nem o “você”. Se um relacionamento exige que os dois abandonem suas maiores realizações pessoais, ele deixa de ser ponte e vira prisão.

Por isso, amar de verdade é para os corajosos. Para quem sabe que não terá controle, mas ainda assim se entrega. Para quem aceita caminhar num terreno incerto, abrir mão da posse e confiar no vínculo. É para quem entende que o amor não é um abrigo fixo, mas uma travessia — intensa, desafiadora e transformadora.