O que me faz existir?
E o que me faria acreditar na plenitude de outro ser?
Tudo na vida parece um cárcere de gestos e silêncios,
onde cada traição é uma faca enferrujada —
não pelo corte, mas pelo tempo que corrói a ferida.
O traidor não sabe.
Não sabe o que tira, nem o que deixa.
Soberbo no ato, caminha como quem nada fez.
E quem é traído descobre, tarde demais,
que o caminho de volta é um mito
inventado por quem nunca sangrou.
A raiva grita mais alto que o raciocínio,
e o homem fecha-se em si
até esquecer o próprio rosto.
Viver é confuso, redundante, irreparável.
Só a própria voz pode dizer quem somos,
e ela fala em língua estranha.
Os outros nos dão apenas momentos:
alguns bons, outros ruins.
Mas se o homem é imagem do Senhor,
e o homem é feito de luz e sombra,
então o próprio Senhor é dual,
como se carregasse nos olhos
o peso do bem e o segredo do mal.
Essas perguntas não têm hora marcada.
A vida responde quando quer —
ou nunca.
E cada resposta é só um reflexo
do que escolhemos crer.
A roda gira. Sempre.
Entre a ignorância e o egoísmo,
o homem escolhe o que amar,
o que sentir,
e como gastar
os poucos instantes que lhe cabem
neste jogo ardiloso
a que chamamos existir.
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Autor:
Thomas Vasconcellos Ivanov (
Offline)
- Publicado: 8 de agosto de 2025 11:35
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 2
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