Catrina Cerimonialista

F.C.

"Olhei para o objeto de desejo na ausência.

— Não tem...

 

Caminho por uma passarela estreita,

de cristal.

Os pés descalços me dão aderência:

nem à esquerda do infantil que suplica,

nem à direita do adulto que censura.

 

Não tenho corpo, boca,

fala adequada em ti.

 

No limiar do acordar e despertar,

Catrina cerimonialista surge,

na escuridão do abismo —

como xilogravura.

Roupa ornamentada, altos relevos,

formam o cintilante que marca o rito da missão.

Balanço único, agarrada à corda da verdade,

cruza o abismo.

Não há mais ponte,

só travessia.

 

Se a criança aparecer, que venha.

Ela habita em mim.

 

Então que me veja!

Que eu me faça vista e reconhecida.

 

Nestes pequenos lapsos,

segue a vida.

Na sobriedade do que somos,

a criança fala, mas não domina.

Apenas — ou em maestria —

adorna a alma,

na inocência ancestral.

 

Transmuta, arde, queima.

Todo o resto é fragmento do que não foi.

Despedida.

Até consumir todo o fogo alquímico

desse eterno encontro.

 

Reverência ao que foi.

Reverência ao que senti.

Reverência a ti.

  • Autor: F.C. (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de agosto de 2025 13:29
  • Categoria: Espiritual
  • Visualizações: 5


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