A mente não se contenta só com o mundo, escava em segredo, galerias paralelas.
Ali, o que nunca foi palpável toma a forma de uma lei mais alta, o amor que não se corrói, o instante que não escorre, a vida que não se curva.
Não é fuga, é revolta.
O sonho é um ato de obstinação,
a recusa definitiva de aceitar que a carne apodrece e que os dias são contados.
O irreal não é mentira, é o protesto silencioso contra a tirania do efêmero
As vezes a mente é uma cleptomaníaca que rouba pedaços do possível para construir o impossível,
e depois se ajoelha diante de sua própria criação.
Em teoria, pode parecer que isto é fraqueza.
Em verdade, digo que é necessidade.
E a única guerra verdadeira é
da consciência quando
encurralada entre o que é e o que quer, fabrica seu próprio território.
Nem refúgio, nem doença.
Resistência.
Um ato de violência íntima contra a ditadura dos fatos
Mas tudo tem um preço.
Penso que quem habita demais o subterrâneo perde o sabor do pão,
confunde o eco com a voz,
e, no fim, já não sabe se a saudade que sente é de alguém ou da sombra que inventou.
A verdade é que não escolhemos...
Ou nos ajoelhamos ao real ou erguemos, com as próprias mãos, um altar para o impossível.
Ambos são formas de fome.
Ambos são formas de fé.
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 4 de agosto de 2025 16:20
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 3
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